Artigo da autoria de Inês Navalhas

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Comunicação de ciência: uma ponte entre o passado e o futuro da ciência

 

Que papel pode ter a comunicação de ciência na vida do cidadão comum?

Imagem: Tom Dunne, American Scientist 2015.

Na história, vários são os exemplos do uso e da importância da comunicação de ciência, e até mesmo da sua implicação na própria prática científica. Frequentemente, os “homens da ciência” ou, mais tarde, os cientistas, precisaram de explicar o seu trabalho para um público que não era especializado, de forma a poder garantir o seu financiamento. Isso acontece desde o Renascimento com Leonardo Da Vinci, mas acontece igualmente hoje.

Apesar desta prática contribuir para que a ciência seja um bem comum, nem sempre foi percebida assim ao longo dos tempos. A divisão entre os cientistas e o público, construída, particularmente, através de uma linguagem muito profissionalizada e fechada para o público, afastou a sociedade e afetou a sua perceção sobre o trabalho dos cientistas. Compreender o que se passa na ciência é tão relevante para a sociedade não especializada, como deve ser para os cientistas comunicar a sua investigação para o público, para que esteja informado e possa tomar decisões informadas.

A literatura, especialmente a ficção científica, potenciou bastante a introdução da ciência na sociedade e, como consequência, a familiaridade do público com temas científicos. Se, no passado, a comunicação de ciência mostrou a sua importância através da literatura, das exposições universais e de uma (bastante reduzida) cobertura mediática, hoje, depois (ou ainda no meio?) de uma pandemia, percebemos o seu absoluto valor. A comunicação de ciência possibilitou, durante este tempo, que o público se mantivesse informado, teve influência na explicação das fakenews que foram surgindo, assim como nas ondas de desinformação, vistas poucas vezes anteriormente.

Com a pandemia do COVID-19, de repente, todo o mundo passou a falar de ciência. As barreiras construídas ao longo de bastantes anos de profissionalização e especialização, neste caso dos médicos e epidemiologistas, caíram por terra. A linguagem especializada foi, obrigatoriamente, “traduzida” para que o público tivesse acesso à informação mais atualizada e pudesse agir e tomar decisões com base nessa informação. 

As vacinas, são um exemplo que pode ser seguido na história da comunicação de ciência até à atualidade, com o trabalho dos cientistas e, mais recentemente (e com a criação da profissão),  com os comunicadores de ciência. Desde a primeira vacina, no século XVIII, até há uns meses, o seu desenvolvimento sempre esteve envolto numa mística que precisou de ser adereçada, comunicada e explicada de forma acessível. 

É inegável o papel da comunicação de ciência ao longo do tempo, apesar do seu reconhecimento a nível político ainda ter um caminho a percorrer. Para que a sociedade possa beneficiar da informação que resulta do trabalho dos cientistas, importa investir na comunicação de ciência, independentemente da área científica. 

 

Autora
Inês Nepomuceno Navalhas tem um doutoramento em História, Filosofia e Património da Ciência e Tecnologia, com uma tese sobre a comunicação e divulgação da ciência em Portugal, especificamente através dos livros da Editora Gradiva nos últimos 40 anos. Acrescentou, então, a sua principal área de formação, comunicação e jornalismo, à história da ciência e da tecnologia. Durante a sua investigação de doutoramento, descobriu a comunicação científica, área onde pretende ficar e onde desenvolve alguns projetos (PubhD de Lisboa, Ciência em 3 Minutos, entre outros). Os estudos sobre comunicação de ciência, sobre ciência cidadã ou sobre novas formas de envolver os cidadãos na prática e desenvolvimento da ciência são alguns dos muitos interesses da investigadora. Atualmente está a trabalhar em dois projetos financiados a nível europeu: NEWSERA – Citizen science as the new paradigm for science communication, onde trabalha como Gestora de Comunicação de Ciência, e ENJOI: Engagement and Journalism Innovation for Outstanding Open Science Communication, onde pertence à equipa portuguesa.

 

SoapBox Science Lisbon 2022

15 de outubro, das 15 às 18 horas (GMT+1), a nossa Soapbox Arena estará no FICA e acolheremos 9 mulheres cientistas locais, selecionadas a de um competitivo grupo de investigadoras. Haverá três sessões de 1 hora, com três oradoras por sessão que irão partilhar o seu trabalho em tecnologia, ciência, medicina e engenharia. O público, de todas as idades e origens, terá não só a oportunidade de ouvir e aprender com cada oradora sobre o seu tema e perspetivas, mas poderá também interagir diretamente com as cientistas, num ambiente divertido e de partilha.

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