A sonda MAVEN (Mars Atmosphere and Volatile EvolutioN) da NASA descobriu “camadas” e “fendas” na parte eletricamente carregada da atmosfera superior de Marte (ionosfera). O fenómeno é muito comum na Terra e causa interferências imprevisíveis nas comunicações de rádio, porém, ainda não foi possível compreendê-lo totalmente, uma vez que acontece a altitudes que na Terra são muito difíceis de explorar. A inesperada descoberta da MAVEN mostra que Marte é um laboratório único para explorar e compreender melhor este fenómeno tão perturbador.

A MAVEN explora Marte para compreender interferências de rádio na Terra. Créditos: NASA’s Goddard Space Flight Center.

“As camadas existem, aqui, na Terra, e o seu efeito pode ser detetado através de um rádio por qualquer pessoa, mas continuam a ser bastante misteriosas,” disse Glyn Collinson, do Goddard Space Flight Center da NASA em Greenbelt, Maryland, principal autor do artigo sobre esta pesquisa que surge em na edição de 3 de fevereiro da Nature Astronomy. “Quem iria imaginar que uma das melhores formas de as compreender era lançando um satélite para Marte?”

Quando a estação de rádio que estamos a ouvir bloqueia ou é de repente substituída por outra, é provável que tal se deva a camadas de gás com carga elétrica, “plasma”, na região mais alta da atmosfera, a ionosfera. Formadas repentinamente e com a duração de várias horas, estas camadas agem como espelhos gigantes no céu, fazendo com que os sinais de rádio vindos de longe sejam refletidos no horizonte, onde podem interferir com as transmissões locais. As camadas podem também causar interferências nas comunicações de rádio em aviões e barcos e cegar radares militar.

Imagem que ilustra sinais de rádio de uma estação remota (linha roxa curvada) a interferirem com uma estação local (torre) após serem refletidos por uma camada de plasma na ionosfera.
Créditos: NASA Goddard/CI lab.

Na Terra, as camadas formam-se a uma altitude de aproximadamente 100 km, onde o ar é demasiado fino para uma aeronave poder voar, mas demasiado espesso para qualquer satélite poder andar em órbita. A única maneira de as alcançar é com um foguete, mas tais missões duram apenas dezenas de minutos antes de voltarem à Terra. “Sabemos que existem há mais de 80 anos, mas por outro lado também sabemos muito pouco sobre o que acontece dentro das camadas, porque nenhum satélite pode orbitar tão baixo de modo a alcançá-las, pelo menos, nenhum satélite na Terra,” disse Collinson.

Em Marte, sondas como a MAVEN podem orbitar em altitudes mais baixas e podem observar estes fenómenos diretamente. A MAVEN leva consigo vários instrumentos que medem plasmas na atmosfera e no espaço em torno de Marte. Medições realizadas recentemente por um desses instrumentos detetaram picos repentinos inesperados na quantidade de plasma na ionosfera marciana. Joe Grebowsky, que foi cientista do projeto MAVEN, reconheceu imediatamente os picos graças à sua experiência anterior com voos de foguetes pelas camadas na Terra. A MAVEN descobriu que tais camadas podem ocorrer em outros planetas para além da Terra, mas os novos resultados revelam ainda que Marte oferece o que a Terra não pode oferecer, a possibilidade de explorarmos essas camadas com satélites.

Imagem que ilustra a MAVEN a encontrar camadas de plasma em Marte. Créditos: NASA Goddard/CI lab.

“As baixas altitudes observáveis pela MAVEN irão preencher uma grande lacuna no nosso conhecimento desta região, tanto em Marte como na Terra, com descobertas futuras realmente significativas,” disse Grebowsky, coautor do artigo.

As observações da sonda estão a derrubar muitas das ideias já existentes sobre o fenómeno: a MAVEN descobriu que as camadas também têm uma “fenda”, onde o plasma é menos abundante. A existência de tais “fendas” era completamente desconhecida antes de serem detetadas em Marte, e anula os modelos científicos existentes que dizem que elas não se podem se formar. Além disso, as camadas em Marte são surpreendentemente duradouras e persistentes, ao contrário do que acontece na Terra, onde têm uma vida curta e imprevisível.

As novas descobertas já nos ajudaram a perceber melhor os processos fundamentais que sustentam estas camadas, e as futuras explorações em Marte irão permitir-nos construir melhores modelos de como elas se formam. Embora não possamos impedir que se formem, talvez um dia os novos conhecimentos obtidos em Marte nos possam ajudar a prever o seu aparecimento na Terra, o que irá sem dúvida permitir melhores comunicações de rádio.

Fonte da notícia: NASA

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