Investigadores captam pela primeira vez o brilho de uma enorme colisão planetária no espaço sideral
Um post casual nas redes sociais, feito por um astrónomo amador com visão apurada, levou à descoberta de uma colisão explosiva entre dois planetas gigantes num sistema espacial distante, a 1800 anos-luz da Terra.
Um estudo, publicado a 11 de outubro na revista Nature, relata a observação de dois exoplanetas gigantes gelados a colidir em torno de uma estrela semelhante ao Sol, criando um clarão de luz e nuvens de poeira. O estudo mostra o brilho térmico remanescente e a nuvem de poeira resultante, que se moveu à frente da estrela hospedeira, diminuindo de intensidade com o tempo.
A equipa internacional de astrónomos formou-se após o astrónomo amador entusiasta ter observado a curva de luz da estrela e ter percebido algo de estranho. Mostrou que o brilho do sistema nos comprimentos de onda infravermelhos duplicou cerca de três anos antes da estrela começar a desaparecer em luz visível.
“Para ser honesto, esta observação foi uma completa surpresa para mim. Quando originalmente partilhámos a curva de luz visível desta estrela com outros astrónomos, começámos a observá-la com uma rede de outros telescópios,” disse Matthew Kenworthy, da Universidade de Leiden, principal autor do estudo.
“Um astrónomo nas redes sociais salientou que a estrela brilhou no infravermelho mais de mil dias antes de desaparecer no óptico. Soube então que se tratava de um evento invulgar.”
A rede de astrónomos profissionais e amadores estudou intensamente a estrela, incluindo a monitorização das alterações no brilho ao longo dos dois anos seguintes. A estrela foi denominada ASASSN-21qj em homenagem à rede de telescópios que pela primeira vez detetou o seu enfraquecimento em comprimentos de onda do visível.
Os investigadores concluíram que a explicação mais provável é a de dois exoplanetas gigantes gelados terem colidido, produzindo o brilho infravermelho detetado pela missão NEOWISE da NASA, que utiliza um telescópio espacial para caçar asteroides e cometas.
“Os nossos cálculos e modelos computacionais indicam que a temperatura e o tamanho do material brilhante, bem como a duração do brilho, são compatíveis com a colisão de dois exoplanetas gelados gigantes,” disse Simon Lock, investigador em Ciências da Terra na Universidade de Bristol e coautor do artigo.
A nuvem de detritos em expansão, resultante do impacto, deslocou-se para a frente da estrela cerca de três anos mais tarde, fazendo com que o brilho da estrela diminuísse nos comprimentos de onda do visível.
Nos próximos anos, espera-se que a nuvem de poeira se comece a espalhar ao longo da órbita do remanescente da colisão, e a dispersão de luz desta nuvem poderá ser detetada tanto com telescópios terrestres como com o telescópio Espacial James Webb (JWST).
Os astrónomos planeiam observar de perto este sistema para verem o que vai acontecer a seguir.
“Será fascinante observar os novos desenvolvimentos. Em última análise, a massa de material em torno do remanescente poderá condensar-se para formar um séquito de luas que irão orbitar em torno deste novo planeta,” acrescentou Zoe Leinhardt, professora associada de astrofísica na Universidade de Bristol e coautora do estudo.
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Fonte da notícia: University of Bristol
Tradução: Teresa Direitinho
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