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A grande conjunção de Júpiter e Saturno – 21 de dezembro 2020

Este ano, há um presente de Natal especial para quem gosta de observar o céu.

A cultura cristã associa ao Natal a bonita imagem de uma estrela, que terá anunciado o nascimento de Jesus Cristo e que se tornou popularmente conhecida como “Estrela do Belém”. Mesmo que esta imagem não passe de um símbolo, o facto de se manter viva até aos dias de hoje tem levado muitos investigadores a procurar um fenómeno que lhe possa dar uma explicação real, e tal fenómeno poderá eventualmente ter estado relacionado com uma invulgar conjunção planetária visível no céu noturno. Esta é apenas uma hipótese, uma vez que nem sequer se sabe ao certo o ano do nascimento de Jesus Cristo e há outros fenómenos astronómicos candidatos que ocorreram nesta época (ver A Estrela de Belém, Tema do mês do Portal do Astrónomo – T. Direitinho, dezembro 2004; ou o vídeo O céu da semana – G. Rojas – dezembro 2012). Porém, voltando a despertar o nosso imaginário e alimentar a nossa curiosidade, há uma conjunção invulgar que volta a acontecer nestes dias natalícios, à medida que os brilhantes Júpiter e Saturno se aproximam no céu, com o culminar da aproximação a ter lugar na noite do solstício de Inverno, a 21 de dezembro.

A conjunção dos planetas Júpiter e Saturno, com a Lua crescente à esquerda. A 21 de dezembro, os dois planetas irão atingir a maior aproximação aparente desde há muitos séculos. Imagem obtida por Gustavo Rojas em Oeiras, Portugal, a 17 de dezembro de 2020. Crédito: Gustavo Rojas.

Em 1610, Galileu Galilei apontou o seu telescópio para o céu noturno, descobrindo as quatro luas de Júpiter – Io, Europa, Ganímedes e Calisto. Nesse mesmo ano, Galileu descobriu também uma estranha forma oval em torno de Saturno, que observações posteriores determinaram ser os seus anéis. Estas descobertas ajudaram a alterar o modo como se entendia o Sistema Solar.

Treze anos mais tarde, em 1623, Júpiter e Saturno, os dois planetas gigantes do Sistema Solar, viajaram juntos pelo céu. Júpiter alcançou e ultrapassou Saturno, no evento astronómico conhecido como a “Grande Conjunção”. Este evento ocorreu, no entanto, muito perto do Sol, pelo que dificilmente terá sido visível.

Quando vistos da Terra, Júpiter e Saturno parecem aproximar-se uma vez a cada 20 anos. A última grande conjunção foi em maio de 2000, mas foi quase impossível de observar porque ocorreu quando os dois planetas estavam apenas 14,9° a oeste do Sol.

O que torna então o espetáculo deste ano tão raro? Decorreram já quase 400 anos desde que estes planetas passaram no céu a tão curta distância um do outro, e quase 800 anos desde que o seu alinhamento ocorreu de noite (em 1226), como vai acontecer em 2020, permitindo-nos testemunhar esta conjunção.

Segundo Henry Throop, astrónomo da Divisão de Ciências Planetárias da NASA, em Washington: “Podemos imaginar o Sistema Solar como uma pista de atletismo, com cada um dos planetas a desempenhar o papel de um corredor na sua própria faixa, e a Terra mais perto da zona central do estádio. Do nosso ponto de vista, seremos capazes de ver Júpiter numa pista mais interna que Saturno a aproximar-se deste durante todo o mês e, finalmente, a ultrapassá-lo, a 21 de dezembro.”

Na maior aproximação, Júpiter e Saturno vão estar distanciados no céu apenas de um décimo de grau, o que ocorrerá no dia 21 de dezembro pelas 13:32 horas (ainda dia em Portugal). A conjunção durará alguns segundos, mas ao anoitecer, os dois planetas vão estar ainda muito juntos, aproximadamente a 0,12°, tão juntos que um dedo mindinho poderá tapá-los facilmente. Será fácil vê-los a olho nu, olhando para sudoeste logo após o pôr do sol.

Localização de Júpiter e Saturno às 18:00 de Lisboa no dia 21 de dezembro. Os planetas vão estar muito baixos no céu, pelo que é importante procurar um local de observação sem edifícios altos ou árvores que obstruam o horizonte. Imagem obtida com o Stellarium.

Convém lembrar que embora do ponto de vista da Terra os dois enormes gigantes gasosos pareçam muito próximos, na realidade, há centenas de milhões de quilómetros a separá-los no espaço.

A conjunção acontece no mesmo dia do solstício de inverno, contudo, o momento é meramente uma coincidência, com base nas órbitas dos planetas e na inclinação da Terra.

“Conjunções como esta podem acontecer em qualquer dia do ano, dependendo da localização dos planetas nas suas órbitas,” explicou Throop. “A data da conjunção é determinada pelas posições de Júpiter, Saturno e da Terra nos seus percursos em volta do Sol, enquanto que a data do solstício é determinada pela inclinação do eixo da Terra. O solstício de inverno é a noite mais longa do ano, como tal, esta rara coincidência dará às pessoas uma hipótese de observar o fenómeno.”

Para quem quiser ver este raro evento, aqui ficam algumas sugestões:

  • Procure um local onde ser possa ver o horizonte a sudoeste, mais ou menos na direção do pôr do sol. Júpiter e Saturno são brilhantes, pelo que podem ser vistos na maioria das cidades, no entanto, vão surgir baixos no céu, pelo que é importante não ter árvores ou edifícios altos à volta.
  • Uma meia-hora, pelo menos, após o pôr do sol, observe o céu a sudoeste. Júpiter irá surgir como uma estrela brilhante e será facilmente visível. Saturno será ligeiramente mais fraco e aparecerá um pouco acima e à esquerda de Júpiter até 21 de dezembro, data em que Júpiter o irá alcançar, invertendo-se as suas posições no céu.
  • Os planetas podem ser vistos a olho nu, mas se tiver binóculos ou um pequeno telescópio, poderá ver as quatro grandes luas de Júpiter a orbitar o planeta gigante.

Para referência, nestes dias, em Lisboa, o Sol põe-se por volta das 17h17. No site do Observatório Astronómico de Lisboa poderá encontrar uma tabela com os instantes do ocaso do Sol, Júpiter e Saturno, bem como informação adicional sobre a conjunção. No dia 21, os planetas irão estar aproximadamente 2 horas e 20 minutos acima do horizonte após o pôr do sol.

Simulação de como Júpiter e Saturno irão aparecer no céu a 21 de dezembro de 2020. As luas de Júpiter são visíveis nesta imagem, obtida com o Stellarium.

É claro que para poder haver observação é necessário que o céu esteja sem nuvens. À data de hoje, a previsão meteorológica para os próximos dias em Portugal é de alguma instabilidade, mas para 21 de dezembro é de céu pouco nublado na metade sul do país, já a metade norte parece não ter tanta sorte, mas até lá tudo pode mudar. Esperemos que o tempo colabore.

Aqui ficam os nossos votos de céus limpos, com boas observações.

Aproveitamos também para desejar a todos um Feliz Natal e um excelente 2021!

Fontes da notícia: NASA e RAS

Edição e adaptação de Teresa Direitinho

 

The ‘Great’ Conjunction of Jupiter and Saturn

Skywatchers are in for an end-of-year treat. What has become known popularly as the “Christmas Star” is an especially vibrant planetary conjunction easily visible in the evening sky over the next two weeks as the bright planets Jupiter and Saturn come together, culminating on the night of Dec. 21.

Saturn, top, and Jupiter, below, are seen after sunset from Shenandoah National Park, Sunday, Dec. 13, 2020, in Luray, Virginia. The two planets are drawing closer to each other in the sky as they head towards a “great conjunction” on December 21, where the two giant planets will appear a tenth of a degree apart. Photo Credit: (NASA/Bill Ingalls).

In 1610, Italian astronomer Galileo Galilei pointed his telescope to the night sky, discovering the four moons of Jupiter – Io, Europa, Ganymede, and Callisto. In that same year, Galileo also discovered a strange oval surrounding Saturn, which later observations determined to be its rings. These discoveries changed how people understood the far reaches of our solar system. […] Read the original article at NASA website.

 

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