Sabemos, da Relatividade Geral, que o percurso de um feixe de luz emitido por uma determinada fonte é defletido pela presença de uma massa entre a fonte e o observador. Deste modo, um corpo massivo pode agir como uma lente – uma “lente gravitacional” – distorcendo a imagem de um objeto que esteja atrás dele.

O efeito de microlente é um fenómeno relacionado: quando um corpo em movimento, agindo como uma lente gravitacional, modula a intensidade da luz de uma estrela de fundo, ao passar fortuitamente à sua frente, é produzido um curto flash de luz.

Imagens do Telescópio Espacial Hubble de um sistema de microlente. A imagem à esquerda foi obtida 3,7 anos após um evento de microlente observado; a da direita foi obtida 8,9 anos depois, após a fonte em primeiro plano (lente) ter mudado de posição. A lente e a fonte (A e B) são claramente resolvidos na última imagem. Créditos: NASA/Hubble.

Há cerca de cinquenta anos, os cientistas previram que, se fosse possível observar um flash de microlente a partir de dois pontos de vista bem separados, a medição da paralaxe determinaria a distância do objeto. O Telescópio Espacial Spitzer, orbitando o Sol à distância da Terra, mas mantendo-se atrás do nosso planeta durante cerca de um quarto do seu caminho orbital, trabalhou com telescópios terrestres para fazer este tipo de medição. Lembramos que, no mês passado, a NASA desligou o Spitzer como uma medida de economia de custos.

Jennifer Yee, astrónoma do CfA (Harvard–Smithsonian Center for Astrophysics), é membro de uma grande equipa internacional que faz medições de paralaxe em microlentes de pequenos objetos estelares. Esta técnica é uma ferramenta poderosa para investigar objetos isolados, como planetas errantes, anãs castanhas, estrelas de baixa massa e buracos negros. No limite da baixa massa, a técnica de microlente já detetou vários candidatos a planetas errantes, incluindo diversos possíveis objetos de massa semelhante à da Terra. Estas descobertas são cruciais para testar teorias sobre a origem e evolução dos planetas errantes. Por outro lado, observações do efeito de microlente em objetos mais massivos, como anãs castanhas isoladas, identificaram alguns objetos a orbitar em sentido oposto ao das estrelas normais do disco da Galáxia. Objetos de massa estelar descobertos via microlente revelaram buracos negros de massa estelar e estrelas de neutrões.

Agora, novas medições de paralaxe em microlentes permitiram determinar as massas e distâncias de duas pequenas estrelas isoladas. Uma tem 0,6 massas solares e está a cerca de 23700 anos-luz de distância; a medição da segunda é mais ambígua, e as conclusões apontam que poderá ter 0,40 massas solares e estar a cerca de 24800 anos-luz, ou então 0,38 massas solares, estando a 24300 anos-luz. Ambas as estrelas são gigantes vermelhas e situam-se no bojo da Via Láctea (a região em forma de amendoim do centro da Galáxia, onde há estrelas antigas – com cerca de dez mil milhões de anos). Estes resultados, juntamente com seis medições do mesmo tipo realizadas anteriormente, dão um forte apoio aos modelos atuais da formação da Galáxia.

Fonte da notícia: Phys.org

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