Uma equipa internacional de astrónomos, liderada por Christopher Conselice, professor de astrofísica na Universidade de Nottingham, descobriu que o Universo contém, pelo menos, dois biliões de galáxias, dez vezes mais do que se pensava anteriormente. O trabalho da equipa, que começou com financiamento da Royal Astronomical Society, surge na edição de 13 de outubro do Astrophysical Journal.

Há muito que os astrónomos tentam determinar quantas galáxias existem no Universo observável, a parte do cosmos onde a luz de objetos distantes teve tempo para nos alcançar. Nos últimos 20 anos, os cientistas usaram imagens do Telescópio Espacial Hubble para estimar que o Universo que podemos ver contém cerca de 100 a 200 mil milhões de galáxias. A tecnologia astronómica atual permite-nos estudar apenas 10% dessas galáxias, e os restantes 90% apenas poderão ser observados quando forem desenvolvidos telescópios maiores e melhores.

HST GOODS - Campo Sul - uma das imagens mais profundas do céu.
Imagem HST GOODS – Campo Sul, uma das imagens mais profundas do céu, mas cobrindo apenas um milionésimo da sua área total. A nova estimativa para o número de galáxias é dez vezes superior ao número observado nesta imagem. Crédito: (NASA/ESA/The GOODS Team/M. Giavalisco (UMass., Amherst).

A investigação liderada pelo professor Conselice é o culminar de um trabalho de 15 anos – financiado em parte por uma bolsa de investigação da Royal Astronomical Society adjudicada ao estudante Aaron Wilkinson. Aaron, agora estudante de doutoramento na Universidade de Nottingham, começou por realizar a análise inicial da contagem de galáxias, trabalho que foi crucial para estabelecer a viabilidade do estudo a uma maior escala.

A equipa de Conselice converteu então imagens  do espaço profundo, obtidas em especial pelo Hubble e também por telescópios em várias partes do mundo, em mapas 3D. Os mapas permitiram calcular a densidade de galáxias, bem como o volume de pequenas regiões do espaço, uma após outra. Esta rigorosa investigação permitiu à equipa determinar quantas galáxias perdemos – numa espécie de escavação arqueológica intergaláctica.

Os resultados deste estudo baseiam-se nas medições do número de galáxias observadas em diferentes épocas – diferentes instâncias no tempo – ao longo da história do Universo. Quando Conselice e a sua equipa em Nottingham (em colaboração com cientistas do Observatório Leiden da Universidade de Leiden, na Holanda, e do Instituto de Astronomia da Universidade de Edimburgo) averiguaram quantas galáxias existiam numa determinada época, descobriram que havia um número significativamente superior em épocas anteriores.

Ao que parece, quando o Universo tinha apenas alguns milhares de milhões de anos, havia dez vezes mais galáxias num determinado volume de espaço do que há hoje num volume semelhante. A maioria destas galáxias eram sistemas de baixa massa, com massas semelhantes às das galáxias satélites da Via Láctea.

“Isto é muito surpreendente, pois sabemos que, ao longo dos 13,7 mil milhões de anos de evolução cósmica, desde o Big Bang, as galáxias têm vindo a crescer através da formação de estrelas e de fusões com outras galáxias. Encontrar mais galáxias no passado implica que deve ter ocorrido uma evolução significativa que reduziu o seu número através de uma extensa fusão de sistemas” afirmou Conselice.

E acrescentou: “Estamos a perder uma grande parte das galáxias, porque elas são muito fracas e distantes. O número de galáxias no Universo é uma questão fundamental em astronomia, e confunde-nos o facto de mais de 90% das galáxias ainda não terem sido estudadas. Quem sabe que propriedades interessantes iremos descobrir quando as estudamos com a ajuda da próxima geração de telescópios?”

Fonte da notícia: RAS

Nota: 1 bilião = 1 milhão de milhões = 1012

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