O universo, responsável pela distribuição de eventos celestes no céu, parece não ligar muito ao nosso cantinho na ponta extrema da Europa ocidental. Em dez anos houve 24 eclipses do sol. Quantos fomos permitidos ver sem de nos deslocar para outras paragens do mundo? Quatro! Hilariante, não é? A década pela frente terá 22 eclipses do sol. Quantos desses poderemos presenciar? Outros 4, que espetáculo!

Eclipse penumbral da lua
Passagem da Lua pela meia-sombra, a penumbra, da Terra no próximo dia 16 aquando do nascer da lua, que coincide forçosamente com o pôr-do-sol. A sombra central da Terra, a umbra, está representada de cor vermelha acastanhada. A figura da lua no meio corresponde sensivelmente ao estado do eclipse no momento do nascer da Lua. Crédito: GRM

Há também os eclipses da Lua, que metade do mundo vê ao mesmo tempo desde que na altura seja noite no local. Nos dez anos para trás foram 36, mas apenas 16 para nós.

Dito isso, estamos a poucos dias de um eclipse penumbral da lua, na sexta-feira dia 16. A lua falha infelizmente a sombra central da Terra e passa apenas pela meia sombra, a penumbra (ver figura).

Se os eclipses lunares fossem categorizados como os legumes no mercado, na sua versão penumbral tratar-se-ia de um evento da categoria III, que normalmente nem entraria nas prateleiras de estabelecimentos que se prezam. Portanto, vê-se claramente uma certa indiferença cósmica pelas nossas necessidades de encher a vista e a alma com fenómenos celestes de qualidade.

Mas a mecânica celeste não se limita a servir-nos pouco e de qualidade questionável. Para cúmulo, nem enche o prato todo, pois no caso deste eclipse só apanhamos a segunda metade e isso apenas graças ao facto de a Lua nascer antes do fim do eclipse.

Sexta-feira dia 16:
Lua entra na penumbra: 17:52 (abaixo do horizonte)
Máximo do eclipse: 19:54
Lua sai da penumbra: 21:55

 

Esta semana termina também o privilégio semestral de o Sol dedicar-se ao aquecimento do hemisfério Norte. Na quarta-feira, dia 22, na hora do lanchinho com café, ambos os quartos de cada hemisfério dividem a energia solar, exatamente metade aqui e metade ali. Depois dessa hora e até o pôr-do-sol, alias, até ao próximo mês de março, o Sol beneficiará principalmente o hemisfério sul. Em relação ao eixo terrestre, os raios solares chegarão em breve às nossas bandas num ângulo obtuso, o que é algo insuficiente para o conforto na pele e a opção de vestir roupa ligeira.

Raios do sol no equinóxio
Dia 22, dia do equinócio, dia do início do outono. Os raios solares chegam perpendicular ao equador, aquecendo e iluminando os dois hemisférios por igual. Comparar com a imagem seguinte!
Crédito: GRM

Os números não enganam tanto como o algodão. Por exemplo, numa esplanada nos meses de Junho-Agosto, o Sol fornece numa mesa de café (1 m2) cerca de 550 W de energia ao longo de uma hora. Nos meses que ai veem isso mal chega aos 250 W. Nota: ao almoço é mais, mas menos no resto do dia.

Raios solares no inverno
Outono/Inverno no hemisfério norte. Os raios solares chegam à nossa latitude num ângulo muito baixo, muito perto do horizonte, o que diminui a sua densidade por metro quadrado (= menos energia, menos quente). Também se pode ver na figura, que na região polar mesmo de dia será noite.
Crédito: GRM

Começa dia 22 portanto a altura da perda substancial do sol quentinho. Para disfarçar, a agenda chama isto poeticamente início do outono, e outros mais sérios, equinócio.

 

Fenómenos da semana
16.9. 19:54 Eclipse penumbral da Lua (a Lua nasce 93% eclipsada por volta das 19:40)
16.9. 20:05 Lua cheia
18.9. 18:00 Lua em perigeu (357860 km)
18.9. 19:13 Lua perto de Úrano (2,6° N, só c/binóculo >21h sep. 4,5°)
22.9. 15:13 Equinócio e início do outono

Contacto para as crónicas sobre a atualidade celeste: ceu@astronomia.pt

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