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A 13 de Junho, a missão Gaia da ESA lançou um novo catálogo de dados sobre a nossa galáxia. Os astrónomos descreveram estranhos “sismos estelares”, ADN estelar, movimentos assimétricos e outras novidades fascinantes na mais detalhada investigação da Via Láctea realizada até hoje.

O objetivo da Missão Gaia da ESA é criar o mais preciso e completo mapa multidimensional da Via Láctea, para que os astrónomos possam reconstruir a estrutura da nossa galáxia e a sua evolução ao longo de milhares de milhões de anos e assim compreender melhor o ciclo de vida das estrelas e o nosso lugar no Universo.

Esta imagem mostra quatro mapas do céu feitos com os novos dados do Gaia da ESA. Velocidade radial (canto superior esquerdo), velocidade radial e movimento próprio (canto inferior esquerdo, poeira interestelar (canto superior direito) e mapa químico (canto inferior direito). Crédito: ESA/Gaia/DPAC.

 

O que há de novo nesta terceira versão do catálogo de dados?

A última versão do catálogo contém novos detalhes para quase dois mil milhões de estrelas da nossa galáxia. As novas informações incluem composições químicas, temperaturas estelares, cores, massas, idades e a velocidade com que as estrelas se aproximam ou se afastam de nós (velocidade radial). Muitas destas informações foram reveladas pelos dados de espectroscopia, uma técnica na qual a luz das estrelas é dividida nas suas cores constituintes (como um arco-íris). Os dados incluem também subconjuntos especiais de estrelas, como as que mudam de brilho ao longo do tempo.

Outras novidades deste conjunto de dados incluem o maior catálogo de estrelas binárias até à data, milhares de objetos do Sistema Solar, como asteroides e luas de planetas, e milhões de galáxias e quasares para além da Via Láctea.

Terceiro lançamento de dados da Missão Gaia. Créditos: ESA.

 

Sismos Estelares

Uma das descobertas mais surpreendentes dos novos dados é que o Gaia é capaz de detetar sismos estelares – pequenos movimentos na superfície de uma estrela – que alteram a forma das estrelas. Algo para o qual o observatório não foi originalmente construído.

O Gaia já tinha descoberto oscilações radiais que fazem com que as estrelas se dilatem e encolham periodicamente, mantendo a sua forma esférica. Mas agora detetou também outras vibrações que são mais parecidas com tsunamis de grande escala. Estas oscilações não radiais alteram a forma global de uma estrela, sendo mais difíceis de detetar.

O observatório descobriu fortes sismos não radiais em milhares de estrelas. Revelou também este tipo de vibrações em estrelas que não tinham sido antes muito observadas. De acordo com a teoria atual, estas estrelas não deveriam sofrer sismos, apesar de o Gaia os ter detetado nas suas superfícies.

“Os sismos estelares ensinam-nos muito sobre estrelas, principalmente sobre o seu funcionamento interno. O Gaia está a abrir uma mina de ouro para a sismologia estelar de estrelas massivas”, disse Conny Aerts, da KU Leuven, na Bélgica, membro da colaboração Gaia.

 

O ADN das estrelas

A composição das estrelas pode dizer-nos muito sobre o seu local de nascimento e a sobre a sua evolução e, consequentemente, sobre a história da Via Láctea. Com este lançamento de dados, o Gaia está revelou o maior mapa químico da galáxia associado a movimentos 3D, desde a nossa vizinhança solar até às galáxias mais pequenas que cercam a nossa.

Algumas estrelas contêm mais “metais pesados” que outras. Durante o Big Bang, apenas foram formados elementos leves (hidrogénio e hélio). Todos os outros elementos mais pesados – a que os astrónomos chamam metais – são produzidos dentro das estrelas. Quando as estrelas morrem, libertam estes metais para o gás e poeira que existe entre as estrelas, o chamado meio interestelar, a partir do qual se formam novas estrelas. A formação e morte de estrelas é um processo que leva a um ambiente mais rico em metais. Podemos dizer que a composição química de uma estrela é um pouco semelhante ao seu ADN, dando-nos informações cruciais sobre a sua origem.

Graças ao Gaia, vemos que algumas estrelas da nossa galáxia são feitas de matéria primordial, enquanto outras, como o Sol, são feitas de matéria enriquecida por gerações prévias de estrelas. As estrelas que estão mais próximas do centro e do plano da nossa galáxia são mais ricas em metais do que as que se encontram a maiores distâncias. O Gaia identificou também estrelas que tiveram origem em galáxias diferentes da nossa, com base na sua composição química.

“A nossa galáxia é um belo caldeirão de estrelas”, disse Alejandra Recio-Blanco, do Observatoire de la Côte d’Azur, em França, membro da colaboração Gaia.

“Esta diversidade é extremamente importante, porque nos conta a história da formação da nossa galáxia. Revela os processos de migração dentro da Galáxia e a acreção de galáxias exteriores. Mostra também claramente que o Sol, e todos nós, pertencemos a um sistema em constante mudança, formado graças à formação de estrelas a partir de gases com diferentes origens”.

 

Estrelas binárias, asteroides, quasares e muito mais

Foram também publicados outros artigos que refletem a amplitude e a profundidade do potencial das descobertas do Gaia. Há um novo catálogo de estrelas binárias que apresenta a massa e a evolução de mais de 800 mil sistemas binários, e há também um novo levantamento de asteroides, abrangendo 156 mil corpos rochosos, que aprofunda a origem do nosso Sistema Solar. O Gaia está ainda a revelar informações sobre 10 milhões de estrelas variáveis, misteriosas macromoléculas entre estrelas, bem como sobre quasares e galáxias para além da nossa vizinhança cósmica.

“Ao contrário de outras missões que visam objetos específicos, Gaia é uma missão de levantamento. Isto significa que, ao examinar várias vezes todo o céu, com milhares de milhões de estrelas, o Gaia fará descobertas que outras missões mais dedicadas não iriam fazer. Este é um de seus pontos fortes, e mal podemos esperar que a comunidade astronómica mergulhe nos novos dados para fazer mais descobertas do que podemos imaginar sobre a nossa galáxia e a sua vizinhança”, disse Timo Prusti, Cientista do Projeto Gaia na ESA.

 

Fonte da notícia: ESA

Tradução: Teresa Direitinho

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