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Os satélites contribuem significativamente para a poluição luminosa do céu noturno

Os resultados de um novo estudo indicam que os objetos artificiais que orbitam a Terra estão a iluminar o céu noturno de uma forma bem mais significativa do que se pensava.

Trilhos provocados pela quinta implantação de satélites que compõem a constelação Starlink. Créditos: Andreas Möller.

O estudo, aceite para publicação na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society: Letters, descobriu que o número de objetos que orbitam a Terra poderá estar a aumentar o brilho geral do céu noturno para valores mais de 10% acima dos níveis de luz natural, em grande parte do planeta. Tais valores ultrapassam o limite estabelecido há mais de 40 anos pelos astrónomos para considerar um local “luminosamente poluído”.

“O nosso principal objetivo foi estimar a contribuição potencial de fontes externas, como objetos espaciais na órbita da Terra, para o brilho do céu noturno,” disse Miroslav Kocifaj, da Academia Eslovaca de Ciências e da Universidade Comenius, na Eslováquia, que liderou o estudo. “Esperávamos que o aumento do brilho do céu, se algum houvesse, fosse irrelevante, mas as nossas primeiras estimativas teóricas revelaram-se extremamente surpreendentes e, como tal, encorajaram-nos a divulgar imediatamente os nossos resultados.

Este trabalho é o primeiro a considerar o impacto geral dos objetos espaciais no céu noturno, em vez de apenas o efeito de satélites individuais e dos detritos espaciais que comprometem as imagens obtidas pelos astrónomos. A equipa de investigadores, espalhada por instituições na Eslováquia, Espanha e Estados Unidos, modelou a contribuição dos objetos espaciais para o brilho geral do céu noturno, usando como entradas para o modelo as distribuições conhecidas de tamanho e brilho dos objetos.

O estudo inclui satélites em funcionamento e também detritos espaciais diversos. Os telescópios e as câmaras sensíveis identificam em geral os objetos espaciais como pontos discretos de luz, porém, os detetores de luz de baixa resolução, como é o caso do olho humano, veem apenas o efeito combinado de muitos destes objetos. Com o aumento do brilho difuso total do céu noturno, alguns objetos que se conseguiam ver em locais afastados da poluição luminosa das cidades, como as brilhantes nuvens de estrelas na Via Láctea, são obscurecidos, tornando-se difíceis observar.

“Ao contrário da poluição luminosa criada a partir do solo, este tipo de luz artificial no céu noturno pode ver-se em grande parte da superfície da Terra,” explicou John Barentine, Diretor de Políticas Públicas da International Dark-Sky Association, e coautor do estudo. “Os astrónomos constroem observatórios afastados das luzes das cidades, procurando céus escuros, mas esta forma de poluição luminosa tem um alcance geográfico muito maior.”

Nos últimos anos, os astrónomos têm manifestado a sua preocupação em relação ao número crescente de objetos que orbitam o nosso planeta, em particular, as grandes frotas de satélites de comunicação popularmente conhecidas como “constelações de satélites.”

Para além de encher o céu noturno com fontes móveis de luz artificial, o surgimento desta tecnologia veio aumentar a probabilidade de colisões entre satélites ou entre satélites e outros objetos, gerando mais detritos. Relatórios recentes, patrocinados pela National Science Foundation dos Estados Unidos e pelo Gabinete das Nações Unidas para Assuntos do Espaço Exterior, identificaram as constelações de satélites como uma ameaça à utilidade das instalações de astronomia no solo e em órbita baixa da Terra. No Reino Unido, a Royal Astronomical Society estabeleceu vários grupos de trabalho para compreender o impacto das constelações de satélites nas instalações ópticas e de radioastronomia usadas pelos cientistas.

Os resultados publicados hoje implicam um maior brilho no céu noturno proporcional ao número de novos satélites lançados e às suas características ópticas em órbita. Operadores de satélites, como a SpaceX, estão a tentar diminuir o brilho dos seus aparelhos através de alterações no design. Apesar dos esforços de atenuação, o efeito conjugado do elevado número de objetos em órbita está a alterar a experiência do céu noturno para muitas pessoas em todo o globo.

Os investigadores esperam que o seu trabalho mude a natureza do diálogo que decorre entre operadores de satélites e astrónomos sobre a melhor forma de gerir o espaço orbital à volta da Terra.

“Os nossos resultados indicam que muitas pessoas, e não apenas os astrónomos, podem perder o acesso aos céus noturnos preservados,” disse Barentine. “Este artigo pode verdadeiramente mudar a natureza desta discussão.”

Fonte da notícia: RAS

Tradução: Teresa Direitinho

 

Scientists reported new research results today suggesting that artificial objects in orbit around the Earth are brightening night skies on our planet significantly more than previously understood.

Trails caused by the fifth deployment of satellites making up the Starlink constellation. Credit: Andreas Möller

The research, accepted for publication in Monthly Notices of the Royal Astronomical Society: Letters, finds that the number of objects orbiting Earth could elevate the overall brightness of the night sky by more than 10 percent above natural light levels across a large part of the planet. This would exceed a threshold that astronomers set over 40 years ago for considering a location “light polluted”.  […] Read the original article at RAS.

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