Os buracos negros são os monstros do Universo: vorazes entidades que engolem tudo o que se atreve a aproximar-se demasiado deles.

Estes monstros puxam estrelas, gás e poeira para um disco que gira à sua volta. Quando eles sorvem a matéria são libertadas grandes quantidades de energia, sob a forma de poderosos raios de luz emitidos pelo gás superaquecido quando começa a tombar para o buraco negro.

Estes discos estão tão longe que é quase impossível aos astrónomos distinguir quaisquer detalhes na sua estrutura. Mas, graças a uma mente curiosa e ao Telescópio Espacial Hubble, os astrónomos têm agora um vislumbre da estrutura do disco que roda em torno do buraco negro na galáxia IC5063, relativamente próxima de nós.

Raios e sombras

O Telescópio Espacial Hubble, fruto da colaboração entre NASA e ESA, observou uma série de estreitos raios brilhantes e sombras escuras que se propagam a partir do brilhante centro de uma galáxia ativa identificada como IC5063. Uma explicação possível para este efeito é que o disco que rodeia o buraco negro, onde existe muita poeira, projeta a sua sombra pelo espaço. Alguns raios de luz passam por brechas no anel de poeira, e é isso que cria os raios luminosos que podemos ver na imagem. Isto faz lembrar o efeito no céu dos holofotes usados na estreia de um filme em Hollywood!

Algumas das mais belas imagens do céu ocorrem ao pôr do sol, quando a luz atravessa as nuvens e cria uma alternância de raios claros e escuros, devidos às sombras das nuvens e à luz que se difunde na atmosfera. Os astrónomos que estudam a galáxia IC5063 foram surpreendidos por um efeito semelhante nesta imagem do Telescópio Espacial Hubble. Neste caso, uma série de estreitos raios luminosos e sombras escuras parece espalhar-se a partir do brilhante centro desta galáxia ativa e cobrir uma distância de pelo menos 36.000 anos-luz. Os astrónomos seguiram estes raios até ao núcleo da galáxia, onde se localiza um ativo buraco negro supermaciço. Este está a engolir o material próximo, o que produz um poderoso jato de luz, emitido por gás superaquecido. Embora os cientistas tenham pensado em várias teorias plausíveis para explicar este espetáculo de luz, a ideia mais interessante sugere que as sombras são lançadas para o espaço por um disco de material rico em poeira que rodeia o buraco negro. A IC5063 fica a 156 milhões de anos-luz do Sistema Solar.
Imagem: NASA, ESA, STScl, e W.P. Maksym (CfA)

Uma descoberta especial

Embora os astrónomos se dediquem ao estudo desta galáxia desde há muito tempo, foi preciso alguém que não é uma cientista para fazer esta descoberta. Judy Schmidt é uma artista e astrónoma amadora que vive na Califórnia, nos EUA. Ela deu com as sombras em dezembro de 2019, quando trabalhava com imagens da galáxia, obtidas pelo Hubble. Ela costuma consultar o gigantesco catálogo de dados do Hubble para identificar observações interessantes que depois possa transformar em belas imagens.

Graças a esta descoberta de Judy Schmidt, e aos ‘olhos’ atentos do Telescópio Espacial Hubble, os astrónomos podem agora estudar os pormenores dos raios luminosos e das sombras escuras que saem do centro brilhante desta galáxia ativa.

Facto curioso: O Telescópio Espacial Hubble tem aproximadamente a massa de três hipopótamos, e o tamanho de um autocarro escolar!

Este Space Scoop baseia-se num Comunicado de Imprensa do Hubble Space Telescope.

Space Scoop original (em inglês):

http://www.spacescoop.org/en/scoops/2044/shadow-play/

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