A ciência é para ti: Rescaldo
Soapbox Science Lisbon 2020: Rescaldo
No dia 19 de Setembro decorreu a primeira edição portuguesa do Soapbox Science. Esta iniciativa, que a nível internacional já tem uma história longa de 10 anos, tem dois objectivos principais: levar a ciência ao público, e promover e apoiar a participação das mulheres nos campos da Ciência, Tecnologia, Engenharia, Matemática e Medicina. Para tal, recorre a um modelo inspirado no famoso Speaker’s Corner do Hyde Park de Londres, um espaço aberto a quem queira apresentar e defender as suas ideias perante o público. Infelizmente, a situação sanitária com que nos debatemos inviabilizou esse modelo para este ano, e assim tivemos um evento online.
As apresentações ao vivo das dez intervenientes, com temas diversificados, podem ser vistas aqui. As suas contribuições escritas, sobre o seu trajecto pessoal, podem ser lidas no Tema do Mês “A ciência é para ti”.
No local primeiramente referido também pode ser vista a apresentação sobre o Soapbox Science realizada por uma das organizadoras, Simone Lackner, no congresso GHOU (Global Hands-on Universe), que também ele decorreu online.
Contudo, houve mais pessoas envolvidas na organização e gestão do evento, Algumas delas resolveram dar um testemunho escrito da sua participação. São esses os textos que podem ser lidos nesta edição especial do Tema do Mês, uma espécie de conclusão desta iniciativa com a qual o NUCLO teve o imenso gosto de colaborar. Para o ano haverá mais, esperemos que no formato presencial mais habitual, que proporciona um contacto mais estreito com as investigadoras, os seus relevantes trabalhos científicos e as suas trajectórias pessoais e profissionais.
Fiquemos então com as reflexões de três das pessoas que ajudaram a tornar realidade esta edição da Soapbox Science Lisbon.
Marta Curado Avelar
O meu nome é Marta e tenho 23 anos. Sou estudante do Mestrado Integrado em Engenharia Biológica, no Instituto Superior Técnico. Sempre soube que queria seguir o ramo de investigação na saúde e sentia-me dividida entre duas grandes áreas: neurociência e imunologia. No final, a imunologia acabou por ganhar, devido a uma grande curiosidade pela forma como os organismos reagem a infeções e, em particular, pelo papel do sistema imunitário no desenvolvimento e combate ao cancro. Neste momento, estou a realizar a minha Dissertação de Mestrado no Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes, no laboratório de Diferenciação de Linfócitos T e Oncoimunologia. Trabalho com modelos animais e, em particular, com uma população de linfócitos T (gamma-delta). Um dos objetivos da minha tese é compreender o desenvolvimento deste tipo de células no contexto de leucemia/linfoma causada por uma mutação na proteína STAT5, que é essencial para o desenvolvimento dos linfócitos T.
Tomei conhecimento da iniciativa Soapbox Science Lisbon 2020 através de um email enviado por uma colega do Instituto de Medicina Molecular. Fiquei a saber que esta iniciativa se dedica a partilhar o trabalho realizado por mulheres cientistas, das mais diversas áreas, com o objetivo de desconstruir preconceitos e de combater a desigualdade de género ainda presente nas áreas STEMM. O trabalho como voluntária foi bastante enriquecedor do ponto de vista científico e social, pois para além de poder conhecer o trabalho incrível (e importante) destas mulheres, tive a oportunidade de as conhecer um pouco, de saber que dificuldades poderão ter encontrado na sua vida profissional e quais as suas motivações. Lembro-me especialmente de uma menina que ficou muito interessada no microscópio “caseiro” criado por uma das nossas cientistas participantes, a Edite. Esta foi apenas uma pequena amostra daquilo que este tipo de evento pode fazer: encorajar mais meninas a perseguir uma carreira na Ciência. Apesar de ser um evento que divulga o trabalho realizado por mulheres, é aberto a todas as idades e géneros. Foi uma honra poder fazer parte desta primeira edição em Lisboa e espero poder participar nas edições futuras.
O meu nome é Márcia Quaresma, sou doutorada em Física pelo Instituto Superior Técnico (IST) e sou investigadora no Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas (LIP). Faço parte de uma colaboração internacional, responsável pela experiência COMPASS, instalada no CERN, a maior instituição de investigação científica sediada na Europa. O meu trabalho centra-se no estudo das propriedades do protão, que já devem conhecer, que é uma das partículas base de toda a matéria visível. O objectivo é compreendermos a origem das características que o definem.
Como é que cheguei ao Soapbox? Tive conhecimento desta iniciativa através de uma das organizadoras, a Simone Lackner, que a divulgou internamente nos canais de comunicação do nosso Laboratório. De imediato fui pesquisar mais sobre o conceito Soapbox e não hesitei em juntar-me à realização do evento na qualidade de voluntária. Assim, tive o prazer de participar na primeira edição da Soapbox realizada em Portugal, no passado dia 19 de Setembro, tendo como tarefa o apoio na interação das oradoras com o público.
O principal objetivo do evento é chegar ao público em geral e partilhar, de uma forma simples e clara, o trabalho de algumas mulheres cientistas, que dedicam as suas vidas à investigação. A ideia é que as oradoras exponham o seu trabalho num local público, onde passam muitas pessoas, que possam parar e tirar um bocadinho do seu dia para aprender um pouco de ciência, pela voz de quem a faz no dia a dia. A ideia é mostrar que existem mulheres com um papel muito relevante na ciência dos nossos dias.
Dadas as circunstâncias da pandemia em que estamos a viver, não foi possível que o evento seguisse o seu modelo padrão e por isso teve lugar exclusivamente online. Ainda assim, as minhas expectativas eram elevadas e não poderia ter corrido melhor. Todas as oradoras foram muito acessíveis e expuseram o seu trabalho de uma forma entusiasmante e concisa. A adesão do público foi também muito positiva, tendo em conta a natureza do evento, estritamente online.
O sucesso desta iniciativa promoveu ainda mais a vontade de continuar a organizar o Soapbox em Portugal nos próximos anos. Esperamos que no próximo ano, esta possa já acontecer algures ao ar livre. Terei muito gosto em fazer parte da equipa responsável pela realização das próximas edições a acontecerem em Portugal.
O meu nome é Marta, tenho 23 anos, e neste momento trabalho como investigadora no laboratório do Dr. Cláudio Franco, no Instituto de Medicina Molecular, em Lisboa. Sou licenciada em Genética e mestre em Medicina e Oncologia molecular pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.
Acho fascinante a maneira como as células do nosso corpo comunicam entre si e se organizam para, por exemplo, formar novas estruturas ou permitir o desenvolvimento de um tumor. O desenvolvimento dos organismos em condições normais e o cancro são duas áreas que me interessam muito porque posso estudar diretamente a comunicação entre os diferentes tipos de células envolvidas nestes processos.
O meu projeto atual foca-se em tentar perceber como é que os vasos sanguíneos se desenvolvem num contexto muito específico – nos pulmões, após o nascimento. Nesta altura do desenvolvimento os pulmões são um meio com grandes concentrações de oxigénio e ainda não sabemos como é que os vasos sanguíneos conseguem perceber para onde é que têm que ir. Sabemos, no entanto, que têm que falar com outras células dos pulmões para descobrirem o seu caminho!
No futuro espero que o que aprendi a “ouvir as conversas das células” me permita entender melhor como o cancro consegue progredir e movimentar-se por todo o corpo para poder dificultar-lhe um bocadinho a vida.
Resumindo, sou uma cientista que estuda as células para que as pessoas possam viver melhor e durante mais tempo!
Decidi voluntariar-me para ajudar no evento SoapBox Science Lisbon 2020 por sentir que cada vez é mais importante falar sobre ciência de uma forma simples e acessível, e que o público fora do meio não tem oportunidades suficientes para reconhecer o trabalho científico, particularmente o trabalho das cientistas, produzido em Portugal. De facto, só depois de estar no meio científico é que reconheci verdadeiramente que existem mesmo muitas mulheres na ciência que são brilhantes e que produzem trabalhos fantásticos, relevantes e inovadores!
Durante toda esta experiência senti que as várias pessoas envolvidas pensavam como eu e que tínhamos todos o mesmo objetivo. Todos eram muito acessíveis e prestáveis e o dia do evento correu às mil maravilhas. Foi um dia extremamente divertido e onde pude aprender imenso sobre temas de que nunca tinha ouvido falar! O entusiasmo das palestrantes e a interação com o público foi o que mais me marcou porque, como as células me ensinaram, é através da comunicação que aprendemos, crescemos e evoluímos, e este evento permitiu tudo isto de uma forma descontraída, divertida e, a melhor parte, acessível a todo o tipo de pessoas! Para além disso, no fim do evento, pudemos sentir a satisfação e o sentimento de dever cumprido, ao qual tenho a certeza que ninguém ficou indiferente.
O SoapBox Science é um evento importante, que permite tornar a ciência mais próxima de todos, e é um passo na direção certa para construir um futuro mais igualitário no que diz respeito a oportunidades, à educação e à partilha de informação.
Assim concluímos a colaboração entre o NUCLIO e o Soapbox Science Lisbon… por agora. Para o ano teremos mais, e haverá novidades em breve!
Soapbox Science Lisbon 2020: Aftermath
On 19 September we had the first Portuguese edition of Soapbox Science. This venture, with an international history of 10 years, has two main purposes: take science to the public, and promote and support women’s participation in the fields of Science, Technology, Engineering, Mathematics and Medicine. With that in mind, it employs a model inspired by the famous Speaker’s Corner in London’s Hyde Park, a space open to whoever wants to present their ideas and debate with the public. Unfortunately, the current health issues that haunt us all made that idea all but impossible, and led to an online event.
The live presentations of the 10 participants, with diverse subjects, can be seen here. Their written contributions focused on their personal trajectories, can be read on the Theme of the Month “Science is for you”. Available in the previously mentioned site is also the presentation about Soapbox Science made by one the organizers, Simone Lackner, in the GHOU (Global Hands-on Universe) congress, that also took place online.
However, there were many other people involved in organizing and managing the event. Some of them decided to give a written testimony of their participation. Those texts can be read in this special edition of the Theme of the Month, a kind of closure for this initiative that NUCLIO had the utmost pleasure to collaborate with. Nest year there will be more, hopefully in the more usual presential mode, that allows for a closer contact with the researchers and their relevant science work, and also with their personal and professional paths.
We leave you with reflections of three of the people that helped turn into reality this first edition of Soapbox Science Lisbon.
My name is Marta and I’m 23. I am a student in the Integrated Master in Biological Engineering, at Instituto Superior Técnico. I’ve always known that I wanted to pursue a career in health research, and two of my big interests when I started college were neurosciences and immunology. In the end, immunology won due to a big personal curiosity on how organisms react to infections and, especially, on the role of the immune system in the development of cancer and in cancer-fighting. I am currently doing my Master Thesis Project at the Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes, in the T Cell Differentiation and Tumour Targeting laboratory. I work with animal models, and, particularly, with a T cell population (gamma-delta T cells). One of the objectives of my thesis is to understand the development of these cells in the context of leukaemia/lymphoma caused by a specific mutation in the STAT5 protein, that is essential for T cell development.
I heard about Soapbox Science Lisbon 2020 for the first time through an email sent by a colleague from the Instituto de Medicina Molecular. I discovered that the main objective of this event is to share the work performed by female scientists, to tear down prejudice and to fight the gender inequality still present in the STEM fields. The work as a volunteer was very enriching, both scientifically and socially: not only I had the opportunity of knowing a bit of the amazing (and important) work developed by these women, but I also got to meet them, find out the difficulties they might have encountered in their careers and their motivations. I remember that a young girl got very interested in a homemade microscope created by one of our speakers, Edite. That was just a small preview of what this type of event can do: to encourage more young girls to pursue a career in science. Although this event shares the work done by women, it is open to all ages and genders. It was an honour for me to be a part of this first edition and I hope to participate in the next events.
My name is Márcia Quaresma, and I have a PhD in Physics by Instituto Superior Técnico (IST). I am a researcher at Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas (LIP), and I am part of an international collaboration, responsible by the COMPASS experiment, located at CERN, the major scientific research institute situated in Europe. My work is mainly on the study of the properties of the proton, a particle that you may have heard of, one of the main constituents of all visible matter. Our goal is to understand the origin of its characteristics.
How did I get to know Soapbox? It was when one of the organizers, Simone Lackner, announced it internally in our Laboratory. At the time I investigated more about the concept and did not hesitate in joining the event as a volunteer. Thus, I am glad to have been part of the first Soapbox to take place in Portugal, in the past September 19, giving support to the interaction between the scientists and the public.
The main objective of the event is to share with the general public, in a simple and clear way, the work of some women scientists, who dedicate their lives to research. The idea is that the event takes place in a public place, where many people pass by, and may stop and interact a bit with the scientist, learning a bit of science by who does it on an everyday basis.
Given the circumstances we face with the pandemic, it was not possible to have the event in its standard way and it had to be exclusively online. Still, my expectations were high and it could not go better. All the speakers were very accessible and exposed their work in an enthusiastic and concise way. The public involvement was also very positive, even given the virtual nature of the event.
The success of this initiative promoted even more the willingness to keep organizing the Soapbox in Portugal in the coming years. We wish that next year it can be performed somewhere outside. I will be very pleased to be part of the team taking care of the following editions in Portugal.
My name is Marta, I am 23 years old and currently I work as a researcher in Dr. Cláudio Franco’s lab, at Instituto de Medicina Molecular, in Lisbon. I have a bachelor’s degree in Genetics and a master in Molecular Medicine and Oncology from the Faculty of Medicine of the University of Porto.
I find it fascinating how the cells in our body communicate between each other and organize themselves in a way that allows them, for instance, to form new structures or to permit the development of tumors. The development of a living being and cancer are two fields of interest for me because they allow the direct study of the communication between the different cell-types during these processes.
My current project focuses on trying to understand how the blood vessels develop in a very specific context – in the lungs, after birth. At this stage of development, the lungs have high concentrations of oxygen and we still do not know how the blood vessels understand where they need to go. We know, however, that to find out their path they need to communicate with other cell-types in the lungs!
In the future I hope that what I learned by “listening to cell’s conversations” will allow me to better understand how can cancer progress and move around the body, so I can make its life a bit more difficult.
Summing up, I am a scientist that studies cells so that people can live better and longer lives!
I decided to volunteer for the SoapBox Science Lisbon 2020 event because I felt that talking about science in a simple and accessible way is even more important and that people outside of the field do not have enough opportunities to recognize the scientific work, particularly the scientific work done by women, in Portugal. In fact, it was only after being a part of the scientific community that I realized that there are many women in science that are brilliant and that produce works that are fantastic, relevant and novel!
Throughout this whole experience, I felt that everyone involved thought the same way that I did and that we all had the same objective. Everyone was very accessible and helpful and the day of the event ran without any problems. It was an extremely fun day and I was able to learn a lot about themes that I had never heard about! The excitement of the speakers and the interaction with the audience was what marked me most because, as cells had taught me, it is through communication that we learn, grow and evolve. This event allowed all this in a relaxed and fun way! Moreover, at the end of the event, one could feel the sense of fulfilment and the feeling of accomplished duty, to which I am sure that no one was indifferent.
The SoapBox Science is an important event that allows everyone to get closer to science and is a step in the right direction to build an equal future regarding opportunities, education and sharing information.
Thus we conclude the collaboration between NUCLIO and Soapbox Science Lisbon… for now. Next year there will be more, and we will surely have news soon!
Leave a Reply