Nestes tempos em que tantas sondas robóticas cruzam o Sistema Solar, há algumas que conseguem, pelo menos durante alguns dias, captar a atenção dos media e deixar uma forte impressão na mente do público. Nos últimos meses, Rosetta, New Horizons, ExoMars , são exemplos de nomes que se tornaram bastante conhecidos. Se fizermos um pouco mais de esforço, talvez encontremos quem tenha ouvido falar da Dawn, da Cassini, e quem não se lembraria do Curiosity, o rover que percorre a superfície de Marte?

Claro que há muitas outras missões notórias, algumas de grande longevidade, que exploram ou exploraram planetas, satélites, asteróides e cometas. A MESSENGER em Mercúrio, a Venus Express em Vénus, a Mars Express, a Mars Odyssey, a Mars Reconnaissance Orbiter em órbita de Marte (para não falar da já muda Mars Global Surveyor) , o rover Opportunity ainda a rolar na superfície do planeta vermelho, ao fim de tantos anos (e já alguns depois do “funeral” do seu gémeo Spirit), a Galileo no sistema de Júpiter…

Mas não é dessas que vamos falar. É das outras.

O simbolo da missão MAVEN. Crédito: NASA
O simbolo da missão MAVEN. Crédito: NASA

MAVEN, já ouviu falar? É uma sonda da NASA que também estuda Marte; mais precisamente, a sua atmosfera, a sua composição e a forma como evoluiu ao longo do tempo. Está em órbita desde 2014, e já permitiu compreender a forma como a atmosfera perde várias espécies químicas em função da proximidade ao Sol. Não tem uma câmara a bordo, não pode por isso fazer-nos chegar bonitas imagens do planeta. Sim, claro que o trabalho desenvolvido é conhecido e apreciado pela comunidade científica. Mas a realidade é que se trata de uma sonda quase invisível…

Há pior, claro. Sabia que, também em volta de Marte, existe uma sonda indiana? Também chegou em 2014, e chama-se Mangalyaan. Sim, foi construída e lançada na Índia, aquela enorme nação asiática conhecida por muitas outras razões, algumas difíceis de engolir para a nossa sensibilidade ocidental. A verdade é que, assim, a Índia se tornou a primeira potência espacial a ter sucesso na sua estreia marciana, e por um preço bastante menor do que é costume nestes casos! A sonda não tem uma câmara capaz de imagens de grande detalhe – mas fornece com regularidade imagens de todo o disco marciano, algo que outras sondas não permitem.

A Mangalvaan em órbita de Marte (visão artística). Crédito: Nesnad
A Mangalvaan em órbita de Marte (visão artística). Crédito: Nesnad

Avancemos para Júpiter. Há uma sonda a orbitar neste momento o gigante gasoso. Chama-se Juno, e entrou em órbita há pouco tempo, já em 2016. Leva uma câmara, e as imagens estão disponíveis na net. Mas o objecto de estudo da sonda é o próprio planeta, não os seus satélites, e as imagens não são particularmente excitantes. Além disso, dado o agressivo ambiente devido à radiação emitida pelo gigantesco planeta, a câmara não deverá funcionar para lá do fim de 2017.

A trajectória da Juno no sistema joviano. Crédito: NASA/JPL.
A trajectória da Juno no sistema joviano. Crédito: NASA/JPL.

Regressemos então a paragens mais próximas da Terra, mais concretamente a Vénus. Depois das sondas da era soviética, da sonda americana com nome português (impossível aos anglo-saxónicos pronunciar Magalhães, evidentemente, portanto Magellan ficou), e da europeia Venus Express, um planeta quase abandonado. Certo? Bem, não exactamente. O Japão tem uma sonda a orbitar o planeta neste preciso momento. A Akatsuki foi lançada em 2010, e nesse mesmo ano falhou a inserção orbital prevista. Porém, ao fim de cinco anos, uma manobra alternativa colocou finalmente a sonda a rodar em torno de Vénus. Neste caso, não vale de todo a pena esperar por imagens da superfície – há aquelas nuvens todas, e sem um radar a bordo, nada feito. Além disso, também esta sonda é dedicada a estudos atmosféricos.

Visão de artista na Akatsuki em torno de Vénus. Crédito: ISAS/JAXA.
Visão de artista na Akatsuki em torno de Vénus. Crédito: ISAS/JAXA.

Mas esta recuperação de uma sonda quase falhada parece ter-se tornado uma especialidade japonesa. É verdade que, no já longínquo ano de 2003,a sonda Nozomi não conseguiu entrar em órbita de Marte, e ficou a rodar em torno do Sol, esquecida. Mas o Japão conta com outro caso de recuperação quase miraculosa. Em 2005, a Hayabusa levou a cabo a sua missão de se aproximar e recolher partículas do asteróide Itokawa, mas depois teve inúmeros problemas e pareceu impossível cumprir a segunda parte do programa: trazer de volta à Terra esses minúsculos pedaços de um asteróide. Porém, tal acabou por ser conseguido, mostrando que nem sempre uma sonda aparentemente perdida se resigna a esse destino.

Não falámos aqui de coelhos de jade, nem de smarts ou clementinas… nomes que, para quem acompanha a exploração espacial, têm um outro significado. Mas a verdade é que se torna já difícil enumerar ou lembrar todas as sondas que partiram do terceiro planeta à descoberta de novos horizontes por esse Sistema Solar fora. Fiquemos apenas com a ideia de que elas não foram lançadas apenas por americanos, russos ou europeus, que a empresa espacial tem cada vez mais actores, e que no futuro haverá novos nomes, mais ou menos estranhos, a celebrar.

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