Artigo da autoria de Álvaro Folhas – NUCLIO

O dia nasceu bonito. O calendário indicava 20 de março. Neste dia, precisamente às 21h24, teria início a Primavera no Hemisfério Norte e Outono no hemisfério Sul. Dizemos que ocorreu o Equinócio de março. Qual é o facto astronómico que torna este dia tão especial?

Imagem: Earth Spacelab.com

Neste dia, e precisamente à hora referida, o Sol atravessa o Equador celeste, ou seja, no movimento aparente do Sol, este cruza a linha do Equador que divide a Terra a meio. Deste modo, como os raios solares são perpendiculares ao Equador, e ao meio-dia solar, não haverá sombras nessa região. Será o dia em que, no mundo inteiro, o Sol irá nascer precisamente no ponto cardeal Este, e irá pôr-se precisamente a Oeste. Contrariamente ao que muitos pensam, este acontecimento só se verifica nos equinócios (março e setembro) correspondentes às mudanças de estação de Outono e Primavera, afastando-se destes pontos a cada dia que passa até aos solstícios que marcam o início do Verão ou do Inverno. Também devido à inclinação do eixo da Terra, a posição aparente do Sol irá apresentar-se cada dia mais a norte, elevando-se mais nos céus, o que resultará em raios solares mais perpendiculares e consequentemente proporcionando temperaturas mais altas. A natureza irá responder à chamada brotando em flores e os dias continuarão a crescer luminosos.

Se formos à origem da palavra equinócio, dizem-nos os dicionários que este termo tem as suas raízes no termo latino aequinoctium que reúne aequus que significa igual/uniforme e noctium, genitivo plural de nox, noctis, ou seja noite. Assim, levado à letra, o equinócio seria o dia no qual noite e dia teriam igual duração, marcando a data a partir da qual os dias passariam a apresentar maior duração em relação à noite, o que iria acontecer até ao solstício de junho. Na realidade, isso não acontece nesta data, no hemisfério norte já aconteceu no dia 17 de março. O motivo para este desfasamento está relacionado essencialmente com duas razões. Uma diz respeito ao tamanho aparente do Sol que, visto da Terra, em vez de ser um ponto matemático correspondente ao seu centro, apresenta um diâmetro de cerca de meio grau, o que não sendo um valor muito expressivo é suficiente para o fazer surgir no horizonte ligeiramente antes do previsto e pôr-se por completo depois, aumentando assim ligeiramente a duração do dia. Acresce ainda o efeito da refração da luz solar na atmosfera da Terra, que se manifesta instantes antes do nascer do Sol, e permanece mesmo depois do sol se pôr. Assim, no dia 20 de março de 2023, acrescentando deste modo cerca de 7 minutos à duração do dia (em Aveiro, o Sol nasceu 6h39 e pôs-se às 18h46).

Era habitual a Primavera iniciar-se a 21 de março, mas como a translação da Terra em volta do Sol demora 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 48 segundos, este acréscimo acrescenta um dia a cada quatro anos (ano bissexto). No entanto, estas contas só estariam certas se em cada ano o acréscimo fosse exatamente 6 horas, o que em quatro anos perfazia 24 horas (ou seja, mais um dia), e não o tempo que indiquei acima. Por esse motivo, ficam em falta, em cada ano, 11 minutos e 12 segundos, resultando nos 4 anos deste ciclo em quase 45 minutos de adiantamento. Considerando o atraso de ¾ de hora a cada 4 anos, em décadas, o momento do equinócio já antecipa um dia, razão pela qual, desde 2008 que este momento da órbita do nosso planeta acontece agora a 20 de março.

O equinócio de março não serve apenas para marcar o início da primavera. Por exemplo, o festival hindu de Holi é celebrado durante o Equinócio de março, assim como o festival persa de Norouz e o festival asteca de Xochilhuitl. A igreja Católica utiliza-o para agendar o Domingo de Páscoa, que acontece sempre no primeiro domingo depois da primeira Lua cheia que sucede ao equinócio.

Mas que a Primavera seja realmente tempo de Esperança. Que o Sol ilumine este mundo, cada vez mais sombrio, renovando e celebrando a Vida.

 

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