Dia 26 marca a chegada da sonda InSIGHT à superfície de Marte.

Há alguns anos, quis o acaso que estivesse perto de Bruce Banerdt, líder desta missão, quando ele recebeu a notícia de que a sua proposta – de uma missão geofísica no quadro do programa Discovery da NASA, que por acaso tinha como alvo o planeta Marte – tinha sido seleccionada. Na altura em que a proposta tinha sido feita estava em discussão o plano da NASA para a década que agora se aproxima do fim, e havia como que uma pré-revolta na comunidade: todos os que se dedicavam ao estudo de outros planetas achavam que Marte estava a ter demasiada atenção e a consumir demasiados recursos, “secando” as possibilidades de investigar o resto do Sistema Solar. Não era boa altura para propor mais missões a Marte. E assim, Bruce explicou-nos que a sua proposta tinha apostado no carácter geofísico das pesquisas, e não no planeta em que elas teriam lugar.

Na mesma reunião estava Phillipe Lognonné, um homem que lutava havia anos por levar um sismómetro a Marte. Tinha estado envolvido na proposta Netlander, que tinha como objectivo espalhar por Marte uma série de sensores sísmicos… e que tinha acabado na prateleira. Não se cansava de repetir como era importante estudar a estrutura interna de Marte. É agora um dos responsáveis pelo sismómetro que a InSIGHT, através de um braço robótico, vai depositar na superfície do planeta.

Uma das principais fontes de informação sobre o interior da Terra é a análise dos sinais sísmicos, das suas velocidades e trajectórias através das diferentes camadas do nosso planeta. É fácil perceber a importância de recolher informação do mesmo género sobre Marte (e outros planetas e satélites, claro).

Na realidade, já foram enviados sismómetros para a superfície de Marte. Reza a história que os dois módulos de superfície Viking os levavam. Mas também que foram mal pensados, e que, estando situados no próprio corpo das sondas, detectavam tudo o que era vibração devida às operações dos instrumentos ou aos ventos de Marte.

Mas esta sonda, cuja designação “encolhe” o longo nome completo – Interior Exploration using Seismic Investigations, Geodesy and Heat Transport – e que é estacionária (na realidade, é baseada no desenho da Phoenix, a sonda que há dez anos aterrou na planície septentrional do planeta vermelho), leva mais instrumentos. Um deles é a chamada “toupeira” – uma espécie de tubo que vai escavar (ou melhor, ser empurrado por um martelo) e enterrar-se no rególito Marciano, até (no máximo) 5 m de profundidade; além de verificar as propriedades físicas do material, vai avaliar o calor e humidade presentes no subsolo marciano. Para lá disso, temos câmaras, espectrómetros, estação meteorológica, e por aí fora.

A sonda esteve para ser lançada em 2016, mas problemas com um dos instrumentos levaram a um adiamento. O local de aterragem foi escolhido não pelas suas características geológicas únicas, mas por ser uma área plana e com um solo previsivelmente fácil de penetrar, e com boa exposição solar ao longo de todo o ano marciano (a sonda tem painéis solares para produção de energia).

A aterragem acontecerá segunda-feira, dia 26. Se tudo correr bem, a sonda estará na superfície de Marte pelas 19.54, hora portuguesa… depois do que é designado pela propria NASA como “seis minutos e meio de terror” – uma expressão que detesto desde a primeira vez que a ouvi, já que dá a ideia de que durante esse período se sua e se lançam preces para que as coisas corram bem, sem dar importância a todo o esforço de idealização, planeamento, construção, envio, controlo de operações e a toda a ciência e engenharia envolvidas na condução de uma missão interplanetária.

Na realidade, todos os passos estão previstos e, se tudo funcionar como deve, os seis minutos e meio serão uma sucessão de operações a decorrer nos momentos necessários para que a sonda aterre sem problemas e envie o sinal de confirmação, esperado para as 20.01 (não esquecer que tudo se terá passado alguns minutos antes em Marte, dada a distância que separa os planetas). A primeira imagem da superfície, essa, não deve chegar antes das 20.04, mas pode ser adiada.

Claro que tudo pode ser acompanhado em directo através da NASA TV – ou seja, uma sala cheia de gente concentrada, com pólos alusivos, muitas animações, uma voz grave nos comentários, uma festa no momento em que chegue o sinal de confirmação ou caras fechadas se ele não chegar… o costume nestas ocasiões. Por outras palavras, imperdível.

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