A Via Láctea poderá ter 100 mil milhões de anãs castanhas
De acordo com o trabalho de uma equipa internacional de astrónomos, liderada por Koraljka Muzic da Universidade de Lisboa e Aleks Scholz da Universidade de St. Andrews, a nossa galáxia poderá ter mais de 100 mil milhões de anãs castanhas. A equipa apresentou este novo estudo sobre enxames estelares densos, onde as anãs castanhas são abundantes, a 6 de julho, na Universidade de Hull, durante o Encontro Nacional de Astronomia da Royal Astronomical Society.
As anãs castanhas são objetos que se situam entre as estrelas e os planetas, com massas demasiado pequenas para manterem a fusão do hidrogénio nos seus núcleos, como acontece em estrelas como o Sol. Após terem sido descobertas, em 1995, os cientistas rapidamente perceberam que as anãs castanhas são um subproduto natural dos processos que conduzem à formação de estrelas e planetas.
Os milhares de anãs castanhas até agora encontrados estão relativamente próximos do Sol, situando-se, na sua esmagadora maioria, dentro de um raio de 1500 anos-luz. Isto deve-se ao facto de estes objetos serem muito ténues e, por isso, difíceis de observar. A maioria das anãs castanhas foram detetadas nas regiões de formação estelar que existem na nossa vizinhança, que são bastante pequenas e com baixa densidade de estrelas.
Em 2006, esta equipa deu início a uma missão de busca de anãs castanhas, observando cinco regiões próximas de formação de estrelas. O estudo SONYC (Substellar Objects in Near Young Clusters) incluiu a observação do enxame de estrelas NGC 1333, a 1000 anos-luz de distância, na constelação de Perseus. Este objeto tinha uma população de anãs castanhas que era cerca de metade da de estrelas, a maior proporção observada até à data.
Para determinar até que ponto NGC 1333 era fora do comum, em 2016, a equipa voltou as atenções para outro enxame de estrelas, mais distante, RCW 38, na constelação de Vela. Este enxame tem uma maior densidade de estrelas mais massivas, bem como condições muito diferentes em relação a outros enxames.
RCW 38 está a 5500 anos-luz de distância, o que significa que as suas anãs castanhas são ténues e difíceis de detetar ao lado das estrelas mais brilhantes. Para obterem uma imagem clara, Scholz, Muzic e os seus colaboradores usaram a câmara de ótica adaptativa NACO do VLT (Very Large Telescope), no Observatório Europeu do Sul, e observaram o enxame durante quase 3 horas, combinando os resultados com dados anteriores.
Descobriram em RCW 38 a mesma proporção de anãs castanhas que em NGC 1333 – cerca de metade da quantidade de estrelas – percebendo assim que o ambiente onde as estrelas se formam (quer as estrelas tenham mais ou menos massa, estejam compactadas ou mais dispersas) tem um efeito pouco significativo sobre a formação das anãs castanhas.
“Descobrimos muitas anãs castanhas nestes enxames” disse, Scholz. “E podemos considerar que são objetos comuns, qualquer que seja o tipo de enxame. As anãs castanhas formam-se ao lado das estrelas nos enxames, pelo que o nosso trabalho indica que devem existir em grande número no Universo.”
Como resultado do estudo SONYC, Scholz e Muzic estimam que a Via Láctea possua, no mínimo, entre 25 e 100 mil milhões de anãs castanhas. Existirão ainda muitas anãs castanhas mais pequenas e ténues, pelo que esta poderá ser uma estimativa por baixo, e a investigação confirma que estes ténues objetos são ubíquos.
Fonte da notícia: RAS
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