Super Lua, superlativa supérflua
18.Nov.- 24.Nov.2016 (Portugal)
Nestas crónicas, pretendo normalmente apresentar um evento ou fenómeno celeste a ocorrer em breve. Portanto, uma previsão de um acontecimento futuro. Na data e hora indicada, se o céu o permite, distingue-se claramente o crédito que merecem as previsões astronómicas ao invés, por exemplo, as previsões dos videntes.
Dito isto, retrocedo desta vez para o dia 14, o qual foi abrangido pela crónica da semana passada.
Foi uma noite de lua cheia, o que significa, para muitos astrónomos, tempo de folgar no que respeita ao uso de telescópios terrestres. O céu fica demasiado brilhante nas noites em torno da lua cheia.
Nesse mesmo dia, houve o perigeu lunar, a maior aproximação do nosso satélite natural á Terra. Isto ocorre também todos os meses e não tem qualquer interesse visual, apenas afeta diminutamente a intensidade das marés. Alias, é de tal maneira irrelevante que nem é referido na lista de fenómenos semanais no fundo das crónicas.
Também, nesse mesmo dia, os jornais, a televisão e quase todos os meios de comunicação disponíveis da atualidade inundaram o olho e ouvido nacionais com notícias de uma super Lua (ou superlua… sabe-se lá como é correto segundo o desacordo ortográfico unilateral em vigor).
Super Lua, portanto, devido à maior proximidade, a Lua deveria ser aparentemente maior. E foi! Não há dúvida. O algodão pode ou não enganar, mas os factos e a geometria não enganam mesmo.
Interessante foi, para mim, a reação posterior ao fenómeno. Mal chegado à esplanada do costume e ainda à espera do habitual café, fui interpelado duas vezes, inquirido sobre o que, afinal de contas, era aquilo da superlua. Pensei: “após tanto alarido nos meios e médias reina a desilusão geral”. Provavelmente seria isso. Dos que olharam, nenhum achou grande ou mesmo qualquer diferença.
Outra reação, esta já não esperada, veio de cima. Não do céu, como sugere o lema destas minhas crónicas, mas dos que decidem e me batiam se não escrevesse a crónica e a metesse aqui no espaço a ela dedicado do Portal do Astrónomo.
Que falhanço não ter referido a supa-dupa-hipa Lua?
Ena… à moda de cão, encolhi o rabo e nem ripostei – algo que geralmente faço, mesmo quando não devia. Claro, sabia perfeitamente da ocorrência quase simultânea do perigeu e da lua cheia. Sete horas de diferença havia entre os dois, tempo suficiente para a Lua se afastar e o diâmetro aparente (= como se apresenta ao olho) da lua cheia já nem ser assim tão maior como nalgumas luas cheias triviais do ano.
Ponderei e decidi contra, não ia escrever sobre o tamanho da Lua na semana passada. Apesar de, e ao contrário do título anterior, haver algo de novo a leste – pelo menos quando a Lua nascesse.
Fiz bem, penso para mim, apesar das críticas diversas. Ao fim e ao cabo, deu para escrever sobre a superlua, agora. Deu para ver que o maior impacto da superlua foi no dia seguinte. Mas isto não podia eu calcular com os algoritmos ao meu dispor. Para essa previsão, devia ter consultado um vidente (vide acima).
Já agora, reparou nas três imagens lunares inseridas no texto? Notou que têm tamanhos diferentes?
A primeira, representa o tamanho aparente da lua cheia média. A segunda, proporcional, a suposta superlua, e a última, a lua cheia quando a Lua está mais afastada na sua órbita. Se reparou, não é milagre, as três estão juntas, e são fáceis de comparar. Imagine olhar para uma de cada vez com dias de diferença e de certeza não saberia distinguir qual é qual.
Outra sugestão. Pegue numa moeda de 1 cêntimo (falo dos cêntimos do €). Olhe para ela e decida no momento… Qual é maior à vista? A moedinha que nada consegue comprar e que tem na mão ou a lua cheia no céu? Esta semana vai ser difícil, a Lua nasce tarde, mas quando se lembrar, experimente. Logo que vir outra vez a nossa Lua, tanto faz a fase, pegue na moeda e estique o braço ao máximo. Compare e… super cêntimo.
Nota: Desde que veja o texto em tamanho real num ecrã convencional (sem zoom, nem tablet ou smartphone), as três imagens, quando vistas a 80 cm de distância, o afastamento recomendado para olhar um ecrã de computador, correspondem ao tamanho aparente verdadeiro da Lua. Não acredita? Depois de o fazer com a Lua verdadeira, faça o teste da moeda aqui.
18.11. 06:00 Máximo de atividade das Léonidas (~20 meteoros/hora)
21.11. 08:33 Lua em quarto minguante (meia lua)
Contacto para as crónicas sobre a atualidade celeste: ceu@astronomia.pt
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