Atmosfera de anã branca a 170 anos-luz de distância contém blocos de formação de vida
Usando o telescópio espacial Hubble, os cientistas confirmaram, pela primeira vez, que um objeto com a composição de um cometa foi despedaçado e dispersado pela atmosfera de uma anã branca (o que restou de uma estrela do tipo do sol). O objeto tinha uma composição química semelhante à do Cometa de Halley, sendo 100 mil vezes mais massivo e possuindo uma quantidade muito maior de água. Era também rico em elementos essenciais para a vida, incluindo azoto, carbono, oxigénio e enxofre.
Esta descoberta revela que há uma cintura de corpos análogos a cometas, semelhante à Cintura de Kuiper do Sistema Solar, a orbitar a anã branca. Ao que tudo indica, estes corpos gelados sobreviveram à evolução da estrela, que se expandiu para uma gigante vermelha e depois colapsou para uma pequena e densa anã branca.
Sabe-se que cerca de 25% a 50% das anãs brancas são poluídas por detritos de objetos rochosos semelhantes a asteroides, mas esta é a primeira vez que se deteta um corpo feito de material gelado semelhante a um cometa a poluir a atmosfera de uma anã branca.
Os resultados sugerem também a presença de planetas sobreviventes, não observados, que podem ter perturbado a cintura e empurrado os objetos gelados para a anã branca. Esta tem também uma estrela companheira que pode causar perturbação, levando os objetos da cintura a viajarem em direção à anã branca.
Siyi Xu, do Observatório Europeu do Sul, em Garching, Alemanha, liderou a equipa que fez a descoberta. De acordo com Xu, esta foi a primeira vez que se detetou azoto nos detritos planetários que caem sobre uma anã branca. “O azoto é um elemento muito importante para a vida tal como a conhecemos,” explicou ele. “Este objeto em particular é bastante rico em azoto, mais do que qualquer objeto observado no Sistema Solar.”
A Cintura de Kuiper, que se estende para lá da órbita de Neptuno, contém muitos planetas anões, cometas e outros pequenos corpos que restaram da formação do Sistema Solar. Os cometas da Cintura de Kuiper podem ter sido responsáveis pelo fornecimento da água e dos blocos básicos de formação de vida na Terra há milhares de milhões de anos.
As novas descobertas são uma prova observacional que sustenta a ideia de que os corpos gelados também estão presentes noutros sistemas planetários e sobreviveram ao longo da história da evolução da estrela.
Para estudar a atmosfera da anã branca, a equipa utilizou o Hubble e também o Observatório W. M. Keck. As medições de azoto, carbono, oxigénio, silício, enxofre, ferro, níquel e hidrogénio foram feitas pelo Hubble, e o Keck mediu o cálcio, o magnésio e o hidrogénio. A visão ultravioleta do Espectrógrafo COS (Cosmic Origins Spectrograph) do Hubble permitiu à equipa fazer medições que são muito difíceis de obter a partir do solo.
Este é o primeiro objeto semelhante em composição ao Cometa de Halley encontrado fora do Sistema Solar. A equipa usou o Halley para comparação por se tratar de um cometa muito bem estudado.
A anã branca, conhecida por WD 1425+540, está a aproximadamente 170 anos-luz da Terra na constelação de Boieiro. Foi observada pela primeira vez em 1974 e faz parte de um amplo sistema binário, com a estrela companheira a uma distância que é 2000 vezes superior à da Terra ao Sol.
Fonte da notícia: Hubble
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