Marte e a Terra são como dois irmãos que se separaram. Houve um tempo em que havia estranhas semelhança entre os dois: ambos eram quentes, húmidos e envoltos em atmosferas densas, mas há 3 ou 4 mil milhões de anos, seguiram caminhos diferentes.

Em breve saberemos porquê. A sonda InSight da NASA chegará ao Planeta Vermelho na segunda-feira, 26 de novembro, e os cientistas poderão finalmente comparar de uma forma nunca antes possível a Terra com seu irmão.

Terrea e Marte.
Imagem composta da Terra e de Marte criada para permitir perceber melhor os tamanhos relativos dos dois planetas. Créditos: NASA/JPL-Caltech.

A sonda InSight (abreviatura de Interior Exploration using Seismic Investigations, Geodesy and Heat Transport) não irá propriamente à procura de vida em Marte, mas estudar o seu interior – de que é feito, como se distribui a matéria em camadas e que quantidade de calor deixa passar – para que os cientistas possam compreender melhor de que modo a composição inicial de um planeta o torna mais ou menos capaz de suportar vida.

“A Terra e Marte foram formados a partir de materiais muito semelhantes,” disse Bruce Banerdt, principal investigador da InSight no Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, em Pasadena, Califórnia, que lidera a missão. “Porque se revelam hoje tão diferentes? As nossas medições irão ajudar-nos a voltar atrás no tempo para percebermos o que levou a uma Terra viçosa e a um Marte tão desolado.”

A vida e as placas tectónicas

Marte deixou de mudar há muito tempo, mas a Terra continuou a evoluir.

Em termos geológicos, a Terra desenvolveu uma espécie de “passadeira de tranporte” que Marte nunca teve: as placas tectónicas. Quando estas convergem, podem empurrar a crosta para o interior do planeta. Quando se afastam, levam ao surgimento de uma nova crosta.

Esta agitação de materiais traz mais do que rochas à superfície. A água, o dióxido de carbono e o metano, que são alguns dos mais importantes ingredientes para vida, são também libertados pela ação tectónica, uma vez que são voláteis (transformam-se facilmente em gás).

O facto de Marte não ter placas tectónicas sugere que sua crosta nunca foi renovada por movimentos tectónicos. Poderá o aparecimento de vida depender da existência de placas tectónicas para produzir voláteis?

“Uma das nossas questões-chave em relação à habitabilidade é esta: que condições essenciais precisam de ter os planetas para desenvolverem vida?” disse Sue Smrekar, investigadora da InSight no JPL. “Percebermos os blocos iniciais de construção de um planeta prepara-nos o terreno para podermos compreender como evoluem com o tempo os processos que afetam o meio.”

A InSight pode ajudar a responder a estas perguntas ao usar um sismógrafo, o SEIS (Seismic Experiment for Interior Structure), para observar como os tremores – que podem ter por origem outros processos que não apenas a ação tectónica – se propagam através de Marte. Analisar a estrutura de camadas do planeta irá ajudar os cientistas a voltar atrás no tempo, e a tentar perceber como se combinaram poeira, metais e gelos no início do Sistema Solar para formar o Planeta Vermelho.

O vermelho e quente Marte

Todos os planetas rochosos retêm no seu interior uma reserva de calor. Uma parte é retida quando o planeta se forma, a restante vem de materiais radioativos que decaem ao longo do tempo. Gradualmente, o calor vai subindo à superfície, derretendo camadas de rocha, quebrando a crosta e criando vulcões que expelem gases voláteis.

O calor é importante por vários motivos. Pode ter criado fontes termais no início da história marciana, aquecendo o subsolo a partir do interior. Pode ter expelido vapor através dos vulcões que depois se condensou em rios e oceanos.

Medindo a temperatura interna de Marte com o instrumento HP3 (Heat Flow and Physical Properties Package), a InSight poderá ajudar a explicar como o calor moldou a superfície do planeta, tornando-a mais ou menos habitável ao longo do tempo.

Um planeta desprotegido

O calor mantém o núcleo de um planeta em fusão e a fluir. Os elementos metálicos no núcleo geram correntes elétricas à medida que se movem, produzindo um campo magnético. Esse campo magnético é uma espécie de escudo invisível, protegendo o planeta – e quaisquer formas de vida que nele possam existir – contra a radiação.

Marte já teve um forte campo magnético; muitas das mais antigas áreas da crosta do planeta são altamente magnetizadas. Mas a maior parte desse campo desapareceu há milhares de milhões de anos, deixando Marte desprotegido.

Para que se perceba melhor porque desapareceu o campo magnético de Marte, os cientistas da InSight querem saber mais sobre o núcleo do planeta. O núcleo ser sólido, líquido ou uma combinação de ambos afeta a oscilação do planeta no seu eixo – tal como um ovo cru, com gema líquida, a girar tem uma oscilação diferente da de um ovo com a gema sólida e mais densa (ovo cozido).

O instrumento de rádio RISE (Rotation and Structure Experiment) irá ajudar os cientistas da InSight a medir a oscilação de Marte. As descobertas que forem realizadas, em combinação com os dados sobre as camadas do planeta e sobre o seu calor, permitirão que se perceba como Marte perdeu o seu campo magnético.

A oscilação de Marte, a atividade tectónica e o fluxo de calor são três estudos que podem ajudar a explicar o que levou dois planetas irmãos (Terra e Marte) a seguirem caminhos diferentes, dos quais apenas um oferece hoje condições propícias para a vida.

“Marte é um laboratório para compreendermos como acontecem todos estes processos na fase inicial de formação de um planeta,” disse Smrekar. “A InSight irá ajudar-nos a melhorar os nossos modelos de formação e evolução planetária.”

Fonte da notícia: JPL

 

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