Segundo um novo estudo, as interações gravitacionais nos limites do Sistema Solar – e não um nono planeta misterioso – podem explicar a dinâmica dos estranhos corpos conhecidos como “objetos separados transneptunianos”.

Sedna - ilustração.
Ilustração de Sedna, que parece avermelhado nas imagens de telescópio. Créditos: NASA/JPL-Caltech.

Ann-Marie Madigan, professora assistente da Universidade do Colorado em Boulder (CU Boulder), e uma equipa de investigadores propuseram uma nova teoria para explicar a existência de raridades planetárias como o Sedna – um planetoide, ou planeta menor, gelado que orbita o Sol a uma distância de aproximadamente 12,8 mil milhões de quilómetros. Os cientistas tentaram explicar por que razão o Sedna e uma série de outros corpos àquela distância parecem separados do resto do Sistema Solar.

Há uma teoria que sugere que um nono planeta ainda não observado, para lá de Neptuno, pode ter influenciado as órbitas destes objetos. Mas a equipa de Madigan calculou que as órbitas de Sedna e dos outros corpos semelhantes podem resultar de interações gravitacionais entre esses mesmos corpos e também com os detritos espaciais do Sistema Solar exterior.

“Existem por aí muitos corpos deste tipo. Qual o efeito conjunto da sua gravidade?” questionou Madigan. “Podemos resolver muitos destes problemas levando apenas em conta esta questão.”

O projeto mergulha profundamente no Sistema Solar exterior, uma região repleta de planetas menores, como Plutão, luas geladas e outros detritos espaciais. É também uma região fora do comum em termos gravitacionais. “Quando nos distanciamos de Neptuno, as coisas deixam de fazer sentido, o que é realmente interessante,” disse Madigan.

Entre o que não faz sentido está Sedna. Este planeta menor leva mais de 11 mil anos a orbitar o Sol e é um pouco mais pequeno que Plutão. Ao contrário de Plutão, Sedna e outros objetos separados completam órbitas enormes, em forma de círculo, e que os deixam longe dos grandes planetas como Júpiter ou Neptuno. Como chegaram aí, permanece um mistério.

Entra então em cena o hipotético Planeta Nove. Os astrónomos têm procurado este planeta, que terá cerca de 10 vezes o tamanho da Terra, mas ainda nenhum telescópio o localizou.

Originalmente, a equipa de Madigan não pretendia ir à procura de outra explicação para estas órbitas. Jacob Fleisig, estudante de astrofísica na CU Boulder, estava apenas a desenvolver simulações de computador para explorar a dinâmica dos objetos separados.

“Um dia, ele chegou ao meu escritório e disse: estou aqui a ver algumas coisas muito interessantes,” contou Madigan. Fleisig tinha calculado que os objetos gelados para lá de Neptuno orbitam o Sol como os ponteiros de um relógio. Alguns, como os asteroides e os objetos mais pequenos, movem-se como o ponteiro dos minutos, relativamente depressa. Os objetos maiores, como o Sedna, movem-se mais devagar, como o ponteiro das horas. Eventualmente, os ponteiros acabam por se encontrar.

“Vemos um acumular de órbitas de objetos menores de um lado do Sol,” explicou Fleisig, que é o principal autor do novo estudo. “A gravidade acumulada é suficientemente forte para interagir com os objetos maiores que se aproximam, alterando as suas órbitas, da forma oval para outra mais circular.” Por outras palavras, a órbita de Sedna alterou-se de normal para extrema, apenas por causa destas interações de pequena escala.

As descobertas desta equipa estão também de acordo com as observações recentes. Investigações realizadas em 2012 observaram que quanto maior é um objeto separado, mais distante a sua órbita fica do Sol – exatamente o que mostraram os cálculos de Fleisig.

As descobertas podem ainda fornecer pistas sobre um outro fenómeno: a extinção dos dinossauros. À medida que os detritos espaciais interagem no Sistema Solar exterior, as órbitas desses objetos estreitam-se e ampliam-se num ciclo que se repete. Este ciclo pode acabar por atirar cometas em direção ao Sistema Solar interior – inclusive em direção à Terra – numa escala de tempo previsível.

“Embora não possamos dizer que foi assim que se extinguiram os dinossauros,” disse Fleisig, “é tentador.”

Madigan acrescentou ainda que a órbita de Sedna é mais um exemplo que revela o quão interessante o Sistema Solar exterior se tornou. “A imagem que temos do Sistema Solar exterior pode ter que mudar,” disse ela. “Há muito mais coisas em jogo do que pensávamos, o que é aliciante.”

Os investigadores apresentaram as descobertas no 23º Encontro da American Astronomical Society, que decorre de 3 a 7 de junho em Denver, Colorado.

Fonte da notícia: CU Boulder

 

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