Alguns dos nomes que há no céu
Quando olhamos para o céu à noite, quantas estrelas podemos ver a olho nu? A resposta depende de uma série de factores: a latitude a que estamos, haver céu limpo, Lua nova, estarmos longe de fontes de poluição luminosa, termos uma boa acuidade visual… Nas melhores condições, de facto, podemos ver uns milhares de estrelas. Mas sabemos os nomes de todas elas? Evidentemente que não. Todas as culturas inventaram formas no céu – constelações – com recurso às mais brilhantes estrelas, depois de repararem que elas não mudavam de posição relativamente umas às outras. E as estrelas, mais ou menos brilhantes, ficaram associadas a essas constelações. Muitas das mais brilhantes têm nomes – mas mesmo nesses casos, há nomes bem mais conhecidos do que outros: Sirius, Castor e Pollux, Altair, Vega, Aldebaran, são por certo mais familiares do que Mintaka, Merak, ou até mesmo Alcor ou Algol. E depois há inúmeras estrelas que não têm um nome, digamos, histórico. Porém, para a comunidade astronómica, todas elas têm uma identificação, um nome, ou (talvez melhor) um código que permite designá-las sem qualquer ambiguidade.
Quanto aos planetas, hoje em dia têm nomes oficiais usados por todos, mas também eles tiveram várias designações em diversas partes e períodos da história do mundo. Os seus satélites têm também nomes, já mais obscuros, mas que fazem parte das extensas listas de personagens das diversas mitologias. Quanto aos asteróides, são aos milhares. Os nomes são variados, e podem vir da mitologia, de pessoas, de países, de tudo e mais alguma coisa.
Então e quando falamos de planetas extra-solares, ou exoplanetas? Hoje em dia são também já aos milhares, e a lista cresce sem parar.
Podemos dizer que são indistintos, para já – não são visíveis, e ainda nenhum capturou de facto a imaginação popular (apesar de algumas “ameaças”, ainda não encontrámos um planeta realmente semelhante à Terra…). Os seus nomes, ou códigos, são pouco claros e apelativos: o nome da estrela (geralmente uma estrela já de si “anónima”, ou seja, identificada por um código que não nos diz nada quanto à sua posição no céu, ou o seu brilho –ou falta dele) seguido por uma letra que refere a ordem em que foi descoberto.
Mas na realidade há já uma série de exoplanetas que têm um nome oficial, ou seja, reconhecido pela União Astronómica Internacional (IAU). Em 2015, esta organização levou a cabo um processo de “baptismo” de estrelas e planetas com recurso a propostas e voto popular, que não terá tido a divulgação que merecia. Havia regras, claro, que impediam o uso de nomes comerciais, de líderes políticos ou religiosos (não há nenhum planeta Napoleão, por exemplo, para não citar nomes bastante mais controversos…) e outros (insultuosos, impronunciáveis…).
Ainda assim, pode confortavelmente referir-se ao planeta Galileu, ou ao Brahe; mas também ao Quixote, ou ao Sancho (sem esquecer o Rocinante e a Dulcineia), que orbitam a estrela Cervantes (cuja designação científica é mu Arae). Esses planetas existem, mesmo que nunca possamos apreciar as suas paisagens longínquas. A lista de nomes aprovados pode ser consultada em http://nameexoworlds.iau.org/names.
A questão é, claro, até que ponto conseguirá a IAU prosseguir com esta política? Quase dois anos depois, não parece haver grandes novidades sobre nova campanha de distribuição de nomes. E quanto ao sucesso dos nomes já atribuídos… Não, não lemos todos os dias notícias sobre grandes descobertas relativamente ao Dagon (o segundo planeta descoberto em torno de Fomalhaut), ao Poltergeist ou ao Hypatia.
De facto, há mais exoplanetas do que astrónomos a estudá-los; eles estão longe da vista e do coração do público, e na maior parte dos casos são apenas números. Talvez os nomes significativos devessem ficar reservados para os exoplanetas que os merecessem – pela proximidade (na Proxima do Centauro, por exemplo), ou pela semelhança com a Terra. Aqueles que, no fundo, mais atenção acabarão por recolher. Os outros, enfim, não será por terem nomes como Kepler-186f que serão mais ou menos conhecidos (e neste caso até se trata do primeiro exoplaneta de dimensão semelhante à Terra e na “zona habitável” da sua estrela… a Kepler-186, pois claro, que fica a cerca de 500 anos-luz do Sistema Solar e que não despertará grande interesse em quem possua um telescópio capaz de permitir a sua observação).
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