7.Out.- 13.Out.2016 (Portugal)

Exercício físico faz bem à saúde e ajuda a manter a forma. Do ponto de vista da física, esta forma é simplesmente o volume, o espaço que ocupamos. O dito exercício físico permite reduzir a massa e assim o volume do corpo.
Outro tipo de exercício, o mental, faz o oposto – aumenta. Felizmente não aumenta a massa corporal, mas, entre outros benefícios, o das ligações sinápticas dentro do cérebro.

Há mais um tipo de exercício, um que junta os efeitos dos dois acima referidos. Por falta de nome na enciclopédia, vamos chamá-lo, por agora, exercício astronómico. O exercício astronómico envolve atividades relacionadas com a esfera celeste. Os benefícios deste exercício astronómico são, entre muitos outros:

Balanço físico – movimentos giratórios do corpo sobre o seu eixo vertical mantendo o equilíbrio durante a orientação no céu estrelado

Reforço do processo cognitivo – reconhecimento de padrões durante a orientação no céu e busca dos alvos desejados

Reforço muscular – alongamentos, principalmente dos braços, do pescoço e da coluna vertebral ao apontar, estabilizar binóculos, observar

Estímulo sináptico – ginástica cerebral ao classificar, quantificar, qualificar ou memorizar os alvos ou fenómenos a serem observados

Equilíbrio emocional – meditação ou contemplação enquanto se aprecia a vista e durante os tempos de espera devido à passagem de nuvens, ou à espera pela hora de início de um acontecimento, etc.

Os dois primeiros tipos de exercício são, sem dúvida, excelentes para o bem-estar. Têm algumas desvantagens ligeiras, tais como p.ex. a exclusão mútua enquanto praticados, ou a constante repetição enfadonha de uma tarefa num prazo de tempo muito curto.
O exercício astronómico talvez não consiga alcançar a intensidade que os outros dois tipos de exercícios conseguem, mas ao menos é menos cansativo.

 

Uma das obras de Aristóteles (384 AC – 322 AC), a Ética a Nicómaco, tem como objetivo fornecer uma espécie de guia para se tornar um ser humano bom e ter uma vida feliz. Para alcançar este objetivo, Aristóteles estabelece algumas condições que as ações de um ser humano devem satisfazer ou refletir na sua busca. Estas ações para o bem final (a boa vida) devem:

  1. ser desejadas por si próprio;
  2. o desejo para ter ou fazer coisas diferentes deve provir de si mesmo
  3. não deve desejar ou fazer algo em função ou dependência de outra coisa
  4. ser autossuficientes, ou seja, a sua existência suficiente para que nada mais falte

Perante estas condições, os exercícios físicos ou mentais são boas opções mas em parte não conseguem satisfazer os critérios em pleno. Por exemplo, certos exercícios (no ginásio ou no estudo) só terão efeito se fizer também outros, o que contraria c) e/ou d). Assim, o objetivo, boa vida e feliz, parece não ser necessariamente alcançado por esta via.
O exercício astronómico, por sua vez, consegue em geral satisfazer todas as condições. Nem sempre isto funciona assim na perfeição, mas nada é realmente perfeito… a dita obra em si também não o é necessariamente.

Ocultação iminente de uma estrela pela Lua
Observar uma estrela a ser ocultada pela Lua no dia 10, às 21h, e outra 3 horas mais tarde. Se o fundo do céu for mesmo muito escuro, as estrelas de magnitude 6 podem ser avistadas a olho nu. Para outras condições, convém utilizar um meio auxiliar. Basta apontar um binóculo ou buscador de telescópio para o nosso satélite e as estrelas devem estar ali, mesmo ao pé dele. Crédito: GRM

Experimente a sugestão da semana (desde que satisfaça a alínea a)), que vai para as estrelas, aliás, a falta temporária delas, e a Lua, responsável por esta falta.

Na noite do dia 10 pode largar os noticiários na televisão, que, de qualquer modo, só fazem mal a alma, e antes das 21 horas procurar a Lua e uma estrela colada a ela (meia hora antes do momento indicado é mais que suficiente). Mais minutos, menos minutos, em torno da hora indicada na lista, dependendo do lugar onde estiver em Portugal, poderá ver a estrela desaparecer repentinamente por detrás do lado escuro do disco lunar. A diminuição da distância inicial entre a estrela e a Lua até ao momento da ocultação (o desaparecimento) é devida ao movimento próprio da lua (translação).

Cerca de um diâmetro e meio do disco lunar para leste (esquerda) há outra estrela com quase a mesma luminosidade aparente daquela que vai ser ocultada. Três horas mais tarde, a Lua já percorreu esta distância e oculta a segunda estrela.

Por fim, pergunte a si próprio se aquilo que fez concorda com as alíneas de a) a d). Se a resposta for sim, então Aristóteles provavelmente diria que está no bom caminho.

 

Fenómenos da semana
09.10. 05:33 Lua em quarto crescente (meia lua)
10.10. 21:07 SAO 163712 ocultado pela lua (mag. 6.18, usar binóculo)
11.10. 00:20 SAO 163783 ocultado pela lua (mag. 5.8, usar binóculo)
13.10. 19:20 51 Nemausa em oposição

Contacto para as crónicas sobre a atualidade celeste: ceu@astronomia.pt

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