Artigo da autoria de Diana Marques

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O ingrediente chave para uma receita 

 

Eu nasci numa família relativamente grande. Tenho três irmãos e uma irmã, portanto é fácil  de imaginar que a hora da refeição era um momento de festa e de união. Nessa hora, além de nos deliciarmos com a comida, também nos divertíamos e conversávamos. Curiosamente, as pessoas gostam de fazer o mesmo com quem mais valorizam. A comida tem sido  tradicionalmente um meio de conexão humana. Como por exemplo, o ato de sair para comer fora com os amigos. E eu adoro cozinhar! Gosto de cozinhar o jantar e compartilhá-lo com as pessoas que me fazem feliz. Cozinhar com amor é, como costumo dizer, o meu ingrediente especial. 

À medida que minha carreira científica se desenvolvia, frequentemente questionava-me se seria mais feliz no laboratório ou na cozinha. Mesmo que possa parecer estranho, existem  paralelos entre os dois domínios. Na cozinha, sigo uma receita; no laboratório, sigo outra receita que chamamos de “protocolo”. 

Um dia, quando estava a frequentar o meu mestrado e ao entrar numa aula de  empreendedorismo percebi que existia a interseção entre estes dois domínios. A ideia era produzir peixe e carne em laboratório, sem a necessidade de sacrificar animais. Fiquei fascinada com o conceito e continuei a aprender mais sobre o assunto. Como vegana, vi muito espaço para melhorar e potencialmente atingir as metas de sustentabilidade exigidas na produção destes alimentos. Atualmente estamos perante um  problema ambiental urgente que exige o desenvolvimento de soluções para salvaguardar as gerações presentes e futuras. Deste modo, a ideia de criar tecido de peixe cultivados em  laboratório foi incrivelmente atraente e estimulante. 

Comecei a trabalhar neste conceito durante a minha tese de mestrado quando ainda poucas pessoas estavam interessadas no projeto e conheciam a área. No entanto, com paciência e um trabalho árduo, consegui obter financiamento para continuar a investigação na área da agricultura celular. Neste momento, estou prestes a iniciar o meu doutoramento nesta área,  sobre novas técnicas de produção de agricultura celular para a produção de peixe cultivado em laboratório. O meu objetivo é que as pessoas possam um dia consumir estes produtos com a mesma alegria e felicidade com que eu os “cozinho” no laboratório. 

Assim, o meu conselho para os jovens cientistas que querem encontrar o seu rumo científico é primeiro encontrar aquilo pelo qual são apaixonados e trabalhar em algo que se relacione com a sua própria identidade e valores pessoais! 

 

Diana Condeço Marques, oradora da Soapbox Science, está prestes a iniciar  um doutoramento sobre novas estratégias de agricultura celular para a produção de filetes de  robalo em laboratório.

 

Autora
Diana Marques é uma estudante de doutoramento que obteve um mestrado em Biotecnologia no Instituto Superior Técnico e uma licenciatura em Bioquímica na NOVA School of Science and Technology. Atualmente, os seus interesses científicos baseiam-se na produção de sistemas alimentares sustentáveis, especificamente na área da agricultura celular. A sua investigação científica está focada na produção de materiais comestíveis e scaffolds à base de plantas. Durante a sua tese de mestrado, desenvolveu novas biotintas comestíveis veganas e eletrocondutoras para bioimpressão 3D usando materiais à base de algas. Este trabalho foi publicado recentemente. Hoje, a Diana está a desenvolver a sua pesquisa no SCERG no Instituto para a Bioengenharia e Biociências (iBB), trabalhando no projeto Algae2Fish para produzir scaffolds à base de algas e plantas para fabricar filetes de robalo usando as técnicas de bioimpressão 3D e eletrofiação.

 

SoapBox Science Lisbon 2022

15 de outubro, das 15 às 18 horas (GMT+1), a nossa Soapbox Arena estará no FICA e acolheremos 9 mulheres cientistas locais, selecionadas a de um competitivo grupo de investigadoras. Haverá três sessões de 1 hora, com três oradoras por sessão que irão partilhar o seu trabalho em tecnologia, ciência, medicina e engenharia. O público, de todas as idades e origens, terá não só a oportunidade de ouvir e aprender com cada oradora sobre o seu tema e perspetivas, mas poderá também interagir diretamente com as cientistas, num ambiente divertido e de partilha.

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