De acordo com uma nova investigação realizada com dados da sonda MAVEN, da NASA, Marte tem uma cauda magnética invisível que é torcida pela interação com o vento solar.

A sonda MAVEN (Mars Atmosphere and Volatile Evolution Mission) está a orbitar Marte para recolher dados sobre o modo como o Planeta Vermelho perdeu grande parte da sua atmosfera e água, deixando de ser um mundo que há milhares de milhões de anos poderia ter albergado vida para se transformar no lugar frio e inóspito que hoje conhecemos. Segundo a equipa, o processo que provoca a torção da cauda pode também permitir que parte da já fina atmosfera de Marte se escape para o espaço.

Cauda magnética de Marte.
Ilustração do complexo campo magnético em torno de Marte. As linhas amarelas representam linhas de campo magnético do Sol transportadas pelo vento solar, as linhas azuis representam os campos magnéticos da superfície marciana, os pontos luminosos são a atividade de reconexão e as linhas vermelhas os campos magnéticos depois da reconexão que ligam a superfície de Marte ao espaço através da cauda magnética. Créditos: Anil Rao/Univ. of Colorado/MAVEN/NASA GSFC.

“Descobrimos que a cauda magnética de Marte é única no Sistema Solar,” disse Gina DiBraccio, do Goddard Space Flight Center da NASA, em Greenbelt, Maryland. “Não é como a cauda magnética descoberta em Vénus, um planeta sem campo magnético próprio, nem como a da Terra, que está rodeada pelo seu próprio campo magnético gerado internamente. É algo que se situa entre os dois casos.” DiBraccio é cientista do projeto MAVEN e apresentou os resultados da sua investigação numa conferência de imprensa no passado dia 19 de outubro, durante a 49ª Reunião Anual da Divisão de Ciências Planetárias da American Astronomical Society, em Provo, Utah.

A equipa descobriu que o processo de “reconexão magnética” deve ter um papel muito importante na criação da cauda magnética marciana porque, a ocorrer reconexão, ela provocaria torção na cauda.

“O nosso modelo previu que a reconexão magnética iria fazer com que a cauda magnética de Marte girasse 45 graus em relação ao esperado com base na direção do campo magnético transportado pelo vento solar,” disse DiBraccio. “Quando comparámos as previsões com os dados da MAVEN sobre as direções dos campos magnéticos de Marte e do vento solar, houve concordância.”

Marte perdeu o seu campo magnético global há milhares de milhões de anos e agora restam apenas campos magnéticos “fósseis”, em certas regiões da sua superfície. De acordo com o novo trabalho, a cauda magnética de Marte forma-se quando os campos magnéticos transportados pelo vento solar se juntam com os campos magnéticos na superfície marciana num processo de reconexão magnética. O vento solar é uma corrente de partículas de gás carregadas que sopra continuamente da superfície do Sol para o espaço a cerca de 1,6 milhões de quilómetros por hora. Transporta consigo campos magnéticos do Sol. Se o campo do vento solar estiver orientado na direção oposta à do campo da superfície de Marte, os dois campos juntam-se em reconexão magnética.

O processo de reconexão magnética pode também impulsionar parte da atmosfera de Marte para o espaço. A atmosfera superior de Marte tem partículas carregadas (iões). Os iões respondem a forças elétricas e magnéticas e circulam pelas linhas do campo magnético. Como a cauda magnética marciana é formada pela ligação de campos magnéticos da superfície com campos do vento solar, os iões na atmosfera superior de Marte têm um atalho para o espaço se seguirem pela cauda magnética. A reconexão magnética também liberta energia que pode impulsionar os iões na atmosfera marciana a seguirem pela cauda magnética para o espaço.

Como Marte tem uma miscelânea de campos magnéticos de superfície, os cientistas suspeitam que a cauda magnética marciana seja um híbrido complexo entre a cauda magnética de um planeta sem qualquer campo magnético e a que se encontra atrás de um planeta com um campo magnético global. A grande quantidade de dados da MAVEN sobre o campo magnético de Marte permitiram que a equipa fosse a primeira a fazer esta confirmação. A órbita da MAVEN muda constantemente de orientação em relação ao Sol, permitindo medições em todas as regiões à volta de Marte e a construção de um mapa da cauda magnética e da sua interação com o vento solar.

Os campos magnéticos são invisíveis, mas a sua direção e intensidade podem ser medidas pelo magnetómetro a bordo da MAVEN que a equipa usou para fazer as observações. A equipa está a planear examinar dados de outros instrumentos da MAVEN para verificar se as partículas que se escapam correspondem às mesmas regiões onde ocorre reconexão magnética, com o objetivo de confirmar se o processo está a contribuir para a perda de atmosfera em Marte e determinar até que ponto ela é significativa. Esperam ainda recolher mais dados com o magnetómetro durante os próximos anos para verem de que modo os vários campos magnéticos à superfície afetam a cauda à medida que Marte gira. Esta rotação, juntamente com um campo magnético do vento solar em constante mudança, cria uma cauda magnética extremamente dinâmica. “Marte é um planeta muito complicado, mas ao mesmo tempo muito interessante,” disse DiBraccio.

Fonte da notícia: Astronomy Now

 

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