Por todo o Universo, há galáxias a serem mortas e os cientistas querem descobrir o que as está a matar.

Um novo estudo, publicado na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, por uma equipa de investigadores do ICRAR (Centro Internacional de Pesquisa em Radioastronomia), da Austrália, procurou encontrar uma resposta para este mistério. O estudo revela que um fenómeno chamado perda por pressão de impacto (ram-pressure stripping) está bem mais generalizado do que se pensava, transportando o gás das galáxias e privando-as do material para a produção de novas estrelas, destinando-as assim a uma morte precoce.

Ram-pressure stripping - perda de gás nas galáxias.
Ilustração que mostra o efeito crescente desta perda de gás nas galáxias, destinando-as a uma morte precoce. Crédito: ICRAR, NASA, ESA, the Hubble Heritage Team (STScI/AURA).

A investigação utilizou uma técnica inovadora que combina a maior pesquisa ótica de galáxias já realizada – o Sloan Digital Sky Survey – com o maior conjunto de observações de rádio para gás atómico em galáxias – a pesquisa Arecibo Legacy Fast ALFA.

O estudo de 11 mil galáxias revelou que o seu gás – a força vital para a formação de estrelas – está a ser arrancado de forma violenta a uma escala generalizada no Universo local.

Toby Brown, líder da investigação e doutorando do ICAR e da Universidade de Tecnologia de Swinburne, explicou que a ideia que temos é a de que as galáxias estão inseridas em nuvens de matéria escura às quais chamamos halos de matéria escura. A matéria escura não emite luz, pelo que é invisível, porém, representa cerca de 27% do nosso Universo, enquanto a matéria dita comum representa apenas 5%. Os restantes 68% são energia escura, ainda mais misteriosa.

“Durante o seu tempo de vida, as galáxias podem habitar halos de diferentes tamanhos, cujas massas oscilam entre a massa da Via Láctea e valores milhares de vezes superiores,” disse Brown. “À medida que as galáxias passam por esses halos maiores, o plasma intergaláctico altamente aquecido entre elas remove-lhes o gás num processo rápido chamado perda por pressão de impacto. Podemos imaginar o processo como uma vassoura cósmica gigante que vai varrendo o gás das galáxias.”

Ora, a remoção do gás das galáxias deixa-as incapazes de formarem novas estrelas. Segundo Brown: “Determina o destino das galáxias, já que as estrelas existentes irão arrefecer e envelhecer. Remover o combustível para a formação de estrelas mata efetivamente as galáxias, transformando-as em objetos sem vida.”

Barbara Catinella, investigadora do ICRAR e coautora do estudo, afirmou por sua vez que os astrónomos já sabiam que este fenómeno afetava as galáxias em enxames, que são os halos mais massivos que se encontram no Universo.

“Este trabalho mostra que o mesmo processo está a acontecer em grupos muito mais pequenos de apenas algumas galáxias e com muito menos quantidade de matéria escura,” acrescentou Brown.

“A maior parte das galáxias no Universo vive em grupos de duas a cem galáxias. Descobrimos que esta eliminação do gás deverá ser a principal forma de extinção das galáxias pelo ambiente que as envolve, pois quando o gás é removido a formação de estrelas cessa.”

A animação no vídeo que se segue mostra este fenómeno de remoção do gás nas galáxias:

 

Outro processo importante através do qual as galáxias perdem o seu gás e morrem é conhecido por estrangulamento.

“O estrangulamento ocorre quando o gás consumido na formação de estrelas se esgota muito mais depressa do que é reposto, então a galáxia morre à fome. Este é, no entanto, um processo lento. Em contrapartida, a perda por pressão de impacto é um processo da ordem das dezenas de milhões de anos, bem mais rápido em termos astronómicos.”

Fonte da notícia: RAS

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