Uma equipa internacional de astrónomos descobriu um novo superenxame na constelação de Vela. A atração gravitacional desta grande concentração de massa na nossa vizinhança cósmica pode ter um efeito importante no movimento do Grupo Local de galáxias, incluindo a Via Láctea. Pode também ajudar a explicar a direção e a amplitude da velocidade peculiar do Grupo Local em relação à Radiação Cósmica de Fundo de micro-ondas.

Os superenxames são as maiores e mais massivas estruturas que se conhecem no Universo. Consistem em enxames de galáxias que formam autênticas muralhas estendendo-se até 200 milhões de anos-luz pelo céu. O superenxame mais conhecido é o Shapley, a cerca de 650 milhões de anos-luz, contendo duas dúzias de massivos enxames de raios-X para os quais foram medidas as velocidades de milhares galáxias. Acreditava-se ser o maior do seu tipo na nossa vizinhança cósmica.

Mas uma equipa de cientistas da África do Sul, Holanda, Alemanha e Austrália, incluindo dois cientistas do MPE (Instituto Max-Planck para a Física Extraterrestre), de Garching, descobriu agora outro grande superenxame, um pouco mais distante (a 800 milhões de anos-luz), que cobre uma área do céu ainda maior que o Shapley. O superenxame de Vela nunca antes tinha sido notado devido à sua localização atrás do plano da Via Láctea, onde a poeira e as estrelas obscurecem as galáxias de fundo, resultando numa larga faixa sem fontes extragalácticas. Os resultados da equipa sugerem que o superenxame de Vela pode ser tão massivo como o superenxame de Shapley, o que indica que a sua influência sobre os fluxos de massa local é comparável à de este último.

Superenxame de Vela
O superenxame de Vela e a sua vizinhança mais vasta: a imagem mostra a distribuição das galáxias dentro e em volta do superenxame de Vela (VSC, elipse maior). Ao centro, a chamada Zona Anulada é tapada pela Via Láctea, cujas estrelas e camadas de poeira (representadas por gradações de cinzento) obscurecem todas as estruturas por detrás. A cor indica as distâncias de todas as galáxias entre os 500 e os 1000 milhões de anos-luz (amarelo para o pico do VSC; verde para objetos mais próximos e laranja para os mais afastados). A elipse marca a extensão aproximada do VSC, atravessando o plano galáctico. A estrutura foi revelada graças a novos redshifts* espectroscópicos de baixa latitude. Dada a sua proeminência em ambos os lados do plano da Via Láctea, seria altamente improvável que estas estruturas cósmicas de larga-escala não estivessem ligadas através do Plano Galáctico. A estrutura pode ser semelhante, em termos de massa agregada, ao superenxame de Shapley (SC, elipse mais pequena), embora muito mais estendida. O chamado Grande Atrator (GA), localizado muito mais perto da Via Láctea, é um exemplo de uma grande estrutura em teia que atravessa o Plano Galáctico, embora muito menor em extensão que o VSC. A parte central do VSC, coberta de poeira, permanece por mapear. Também são visíveis as duas galáxias satélites da Via Láctea, a Grande e a Pequena Nuvem de Magalhães, localizadas a sul do plano Galáctico. Crédito: Thomas Jarrett (UCT).

A descoberta teve por base observações espectroscópicas multiobjeto de milhares de galáxias parcialmente obscurecidas. Observações realizadas em 2012 com o renovado espectrógrafo do SALT (Grande Telescópio da África do Sul) confirmaram que oito novos enxames residem dentro da região de Vela. As observações espectroscópicas que se seguiram na Austrália, com o telescópio Anglo-Australiano, forneceram milhares de redshifts* galácticos e revelaram a grande extensão desta nova estrutura.

A professora Renée Kraan-Korteweg, da Universidade da Cidade do Cabo, que liderou este estudo e tem vindo a investigar esta região há mais de uma década, ao analisar com a sua equipa os espectros da nova pesquisa, afirmou: “Eu não podia acreditar que estávamos perante uma estrutura tão grande e tão proeminente.”

Hans Böhringer e Gayoung Chon, investigadores do MPE de Garching, procuraram, na região do superenxame, enxames de galáxias brilhantes em raios-X e encontraram dois enxames massivos na região coberta pelo levantamento de redshifts e outros na sua vizinhança imediata, confirmando que: “Esta descoberta mostra que o superenxame de Vela tem uma densidade de matéria significativamente maior que a média, o que o torna numa grande e proeminente estrutura.”

Mas ainda há muito por fazer – serão necessárias mais observações para revelar toda a extensão, massa e influência do superenxame de Vela. Até agora, esta região do céu tem sido pouco estudada, e menos ainda a parte mais próxima à Via Láctea, devido à densidade de estrelas e às camadas de poeira que bloqueiam a nossa visão. Futuras observações a realizar com o novo radiotelescópio MeerKAT ajudarão a mapear esta região obscurecida e serão também obtidos novos redshifts óticos com o novo espectrógrafo multiobjeto australiano, o Taipan.

A pesquisa de enxames brilhantes em raios-X que está em curso, conduzida pela equipa do MPE, Hans Böhringer e Gayoung Chon, foi recentemente alargada para cobrir esta região na banda da Via Láctea. A região do superenxame de Vela e o seu ambiente receberão especial atenção. “Temos já boas indicações de que o superenxame de Vela está inserido numa grande rede de filamentos cósmicos marcada por enxames, dando-nos informação sobre a estrutura ainda em mais larga escala onde se insere o superenxame de Vela. Esperamos, com o futuro programa em diversos comprimentos de onda, compreender toda a sua influência na cosmografia e cosmologia,” observou Gayoung Chon.

*Redshift – desvio para o vermelho – corresponde a uma alteração na forma como a frequência das ondas de luz é observada no espectroscópio em função da velocidade relativa entre a fonte emissora e o observador.

Fonte da notícia: PHYS.org

Classificação dos leitores
[Total: 1 Média: 5]