Na passada quarta-feira (19/10/2016) teve lugar, no Museu Nacional de História Natural e da Ciência, uma conferência realmente espacial. O conferencista era nem mais nem menos do que o biógrafo de Neil Armstrong, o Prof. James R. Hansen.

 

Credito: Simon & Schuster.
Credito: Simon & Schuster.

Ao longo de pouco mais de hora e meia foram desvendadas as respostas a muitas questões e alguns mitos que rodeiam a pessoa de Neil Armstrong e a sua carreira, naturalmente centradas na madrugada do dia 21 de Julho de 1969 (ou noite de dia 20, para os americanos). Armstrong emergiu desta conversa como um homem reservado, sério, extraordinariamente qualificado para ocupar o lugar que as circunstâncias lhe atribuíram – algo de que ele estava perfeitamente ciente, recusando por isso a glorificação exagerada a que muitos outros teriam cedido com toda a facilidade.

Armstrong  não foi um sonhador, um miúdo que olhava para as estrelas e criava castelos no ar. Nem sequer um apreciador de ficção científica. Foi, isso sim, um piloto precoce – aos 16 anos já tinha licença de voo. Foi piloto naval, combateu na Guerra da Coreia. Com a sua formação em engenharia aeronáutica, estava na melhor posição para se tornar piloto de testes e trabalhar com simuladores. Fez parte do segundo grupo de astronautas admitidos pela NASA (embora tenha enviado a sua candidatura fora do prazo, mão amiga fez com que ela fosse ainda assim considerada…)

No seguimento da sua carreira de astronauta, Armstrong foi escolhido por Deke Slayton (o astronauta que não chegara a pilotar nenhuma missão Mercury, e que chefiava o grupo) para comandar uma missão; seria porém a evolução dos planos da NASA a ditar que tipo de missão seria essa, e a determinar que seria a primeira a pousar na Lua; Armstrong teve a possibilidade de escolher outro colega para o acompanhar até à Lua, no lugar de Buzz Aldrin, mas declinou-a; a decisão de que seria ele o primeiro homem a descer do módulo lunar foi tomada numa reunião de dirigentes, tendo em atenção vários factores (a personalidade, o facto de ser um civil) e não surgiu em resultado de decisão própria, ou da disposição dos astronautas no LM. O mistério de não haver imagens de Armstrong na superfície lunar deve-se não ao mito de que Aldrin não teve a câmara fotográfica nas mãos, mas sim a uma escolha deste, de nunca retratar o colega – por motivos que só podemos tentar adivinhar e lamentar.

 

Crédito: NASA.
Crédito: NASA.

Muitos outros detalhes, mais ou menos pitorescos, mais ou menos relevantes, foram revelados – por exemplo, seis das sete missões lunares foram comandadas por antigos pilotos navais (algo que parece não ser particularmente apreciado pelos astronautas oriundos da Força Aérea); Deke Slayton tinha uma especial relação com Gus Grissom, e se este não tivesse falecido em Janeiro de 1967 na sequência do malfadado fogo num teste do módulo de comando, teria sido a mais provável escolha para comandante da primeira missão lunar.

O autor prepara uma nova edição da biografia, cobrindo a parte final da vida de Armstrong (cuja morte, em resultado de uma prática hospitalar rotineira, tem algo de controverso); e prepara também outro livro, com o título “Dear Neil Armstrong”, uma escolha de entre as centenas de milhar de cartas que foram dirigidas ao astronauta americano, de gente de todo o mundo, de todas as raças e confissões, em todas as circunstâncias, que promete ser deveras interessante, embora seja muito mais sobre todos nós do que sobre o destinatário dessas missivas.

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