A pesquisa RAVE (Radial Velocity Experiment) para estrelas do hemisfério sul celeste lançou o seu quinto conjunto de dados, contendo velocidades radiais para 520.781 espectros de 457.588 estrelas que foram observadas ao longo de dez anos. Este trabalho vem complementar o primeiro lançamento de dados do satélite Gaia, publicado pela ESA na semana passada, ao fornecer velocidades radiais e parâmetros estelares, como temperaturas, densidades e metalicidades de estrelas da Via Láctea.

Estrelas do quinto lançamento de dados RAVE
Frame de um filme que nos apresenta uma viagem através das estrelas do quinto lançamento de dados RAVE (DR5). Crédito: K. Riebe, AIP.

As velocidades e a distribuição espacial das estrelas definem a galáxia em que vivemos, permitindo caraterizar a sua formação. As grandes pesquisas espectroscópicas fornecem medições de parâmetros estruturais e dinâmicos fundamentais para uma amostra estatística de estrelas da Via Láctea, e têm sido uma ajuda preciosa para o avanço do conhecimento sobre a nossa galáxia. A ambiciosa pesquisa RAVE teve início em 2003 e foi a primeira projetada para fornecer os parâmetros estelares necessários para complementar as missões que se concentram em informações de astrometria, como a do satélite Gaia.

“As estrelas Tycho-Gaia, que foram também por sorte observadas pela RAVE, contêm os melhores movimentos próprios e paralaxes recentemente divulgados pelo Gaia e podem agora ser combinados com as velocidades radiais e parâmetros estelares da RAVE,” disse Andrea Kunder, astrónomo do Instituto Leibniz de Astrofísica de Potsdam (AIP), “Assim, estas estrelas podem ser usadas para explorar a Via Láctea com mais precisão que nunca. Tal como os óculos nos permitem ver com mais nitidez, os dados Gaia-RAVE irão permitir-nos ver a Galáxia com maior detalhe.” Entre as pesquisas espectroscópicas existentes, a RAVE é a que cobre melhor o catálogo de soluções astrométricas Tycho-Gaia.

Vídeo: o filme mostra estrelas de RAVE DR5. As cores codificam a velocidade radial heliocêntrica de cada estrela, do vermelho (> 50 km/s), passando pelo laranja, amarelo até ao azul (<-50 km/s). O filme começa com um mapa das estrelas RAVE, que envolve uma esfera com o Sol no centro. As estrelas movem-se para as suas distâncias e nós viajamos através da distribuição 3D. Crédito: Kristin Riebe (visualisation), the RAVE Collaboration.

 

Os quatro lançamentos de dados anteriores serviram de base para uma série de estudos que permitiram um avanço considerável no conhecimento sobre o disco da Via Láctea. O quinto lançamento de dados RAVE (DR5) inclui, não apenas o máximo das observações, conseguido em 2013, mas também observações de anos anteriores, que foram postas de parte e depois recuperadas, resultando em 30.000 espectros RAVE adicionais.

Nos novos dados, os parâmetros atmosféricos, tais como a temperatura efetiva, a gravidade à superfície e as metalicidades, foram melhorados usando astrossismologia e parâmetros atmosféricos estelares de alta precisão. Os dados contêm também estrelas de hipervelocidade, algumas estrelas extragaláticas da Grande Nuvem de Magalhães, bem como algumas estrelas extremamente pobres ou ricas em metais.

“O verdadeiro tesouro é que esta é uma amostra grande e completa em termos estatísticos de estrelas locais da Via Láctea, que pode ser usada para encontrar tendências e irregularidades para compreendermos a formação da Via Láctea,” conclui Kunder.

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O primeiro catálogo do satélite Gaia da ESA, de mais de mil milhões de estrelas, foi publicado a 14 de setembro. A caminho de reunir o mais detalhado mapa 3D da Via Láctea, a missão determinou a posição precisa no céu e o brilho aparente de 1142 milhões de estrelas.

O primeiro mapa do céu de Gaia.
O primeiro mapa do céu de Gaia. Crédito: ESA.

Do consórcio internacional Gaia fazem parte mais de 400 elementos. A equipa portuguesa que faz parte do DPAC (Data Processing and Analysis Consortium) do Gaia tem trabalhado no desenvolvimento de sistemas que permitam a visualizar e tornar inteligíveis, de uma forma global, os dados dos mais de mil milhões de estrelas que compõem esta primeira entrega de dados. É da autoria desta equipa a imagem/mapa da Via Láctea ( em cima) disponibilizada a 14 de Setembro.

 

Fontes da notícia: PHYS.ORG e SPA

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